segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Notas sobre o exploitation italiano: Nunsploitation


O que mais me chama atenção em relação ao exploitation italiano é a forma como suas produções, cuja forma foi “tomada emprestada” e re-adaptada, ganharam uma cor local, revestidas pelo contexto sócio-cultural, apresentando características bastante singulares. Durante as décadas de 60 e 70, até meados dos anos 80, proliferaram inúmeros filmes decalcados dos mais variados gêneros, como horror, ficção científica, espionagem ao estilo James Bond e comédias eróticas. Muitas vezes, os produtores italianos se aproveitavam da expectativa em torno do lançamento de um algum filme pelos estúdios de Hollywood, ou mesmo do sucesso deste em bilheteria, e colocavam no mercado vários títulos feitos às pressas com temática semelhante com o óbvio intuito de receber uma fatia dos lucros. Isso ficou mais evidente durante a década de 70, quando o formato da indústria italiana começou a se modificar, enfrentando o afastamento do público das salas e a concorrência da tv. Um bom exemplo são as produções em que a temática é a possessão demoníaca ou diabolismo, em voga na época desde o impacto de O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby/1968) e O Exorcista (The Exorcist/1973). Como O Anticristo (Anticristo,1974), de Alberto De Martino (que já foi tema de postagem). Uma das melhores apropriações das idéias principais contidas nos filmes de Polanski e Friedkin, com o significativo acréscimo de referências ao universo religioso e ao passado marcado pela inquisição e superstições medievais. Elementos que compõem o imaginário católico romano, bastante distintos da versão anglo-saxônica dos fenômenos religiosos-sobrenaturais prevalecente nos filmes norte americanos e ingleses. Dentro dessa perspectiva, posso dizer que foi na Itália onde melhor floresceu uma vertente do cinema exploitation bastante próixima da linha women-in-prison: o nunsploitation (ou nunxploitation, como também é chamado) Subgênero sustentado por uma visão nada ortodoxa do cotidiano das ordens religiosas femininas, em que os desejos reprimidos e a tensão sexual presente fornecem o pretexto para a oportunista exibição de cenas de nudez, lesbianismo, sadomasoquismo e, freqüentemente, satanismo. Essas produções, em geral, tratam de uma jovem noviça que foi encarcerada num convento e lá é submetida a abusos sexuais e torturas, em geral conduzidas pela Madre Superiora perversa. São representativos dessa vertente filmes como A Monja de Monza (La Monaca di Monza, 1968), de Eritando Visconti; Flavia, a Herética (Flavia, La Monaca Musulmana, 1974), de Gianfranco Mingozzi, este último incluindo cenas bastante explícitas de sexo e violência, com orgias de freiras, estupros e o esfolamento em vida da pobre Flávia (a brasileira Florinda Bolkan). Também os sugestivos Le Scomunicate di S. Valentino (1974), de Sergio Grieco; Por Trás dos Muros do Convento (Interno di um Convento, 1977), de Walerian Borowczyc; A Freira Assassina (Suor Omicidi, 1978), de Guilio Berruti, em que a personagem-título, Irmã Gertrude (interpretada por Anita Ekberg) é a Madre Superiora de um sanatório, cujas transgressões vão desde uso de drogas - a irmã é viciada em morfina – até assassinato; e Monjas Pecadoras (La Monaca Del Peccato, 1986), de Aristide Massaccesi (mais conhecido como Joe D’Amato, devotado diretor de filmes de sexo explícito italianos).