sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O despertar do horror - Hammer Films - Parte 3


Graças ao sucesso de Terror que Mata (The Quatermass Xperiment/1955) e sua sequência – Quatermass II: Enemy from Outer Space, a Hammer direcionou sua produção para os filmes de terror, revitalizando nas telas os monstros da Universal, iniciando com A Maldição de Frankenstein (The Curse of Frankenstein/1957) e O Vampiro da Noite (Dracula/1958). A grande diferença é que o horror antes sugerido, se tornara explícito. A utilização da cor foi fator decisivo, já que seu uso, ainda não tão comum nesse tipo de filme, mostrou-se bastante eficaz para realçar o impacto das cenas sangrentas e violentas, aumentando consideravelmente as chances nas bilheterias. E se existe uma cor que bem representa o conceito Hammer Horror, é o vermelho technicolor do sangue que passou a jorrar aos litros.

A Hammer fez escola a partir dessa revisão dos monstros da Universal. A Maldição de Frankenstein – maior renda do cinema britânico naquele ano ($7 milhões de dólares, sendo $3 milhões só nos Estados Unidos) - possui todos os elementos já conhecidos da história. O problema é que até hoje, nenhum filme sobre a criatura conseguiu se aproximar do filme de James Whale, com sua fotografia em branco-e-preto, cenografia de influência expressionista e uma criatura que se tornou ícone. A Maldição de Frankenstein, sucesso de público na Inglaterra e EUA (distribuído pela Warner), já mostrava as sementes de uma estética: mais dinamismo, violência explícita, mulheres insinuantes e erotismo. Tudo inserido em sets reproduzindo com material barato as aldeias e vilas da Europa Central do século XIX, com seus castelos, carruagens e tavernas. A diferença mais marcante no Frankenstein da Hammer foi a inversão de enfoque, priorizando o cientista e deixando a criatura em segundo plano.

O Vampiro da Noite (também conhecido como Horror de Drácula), por outro lado, é superior ao artificial Drácula de Tod Browning, e Christopher Lee, que encarnou o conde, mais aterrador e sensual do que poderia sugerir a inexpressiva figura de Bela Lugosi, com seus gestos artificiais. O Vampiro da Noite foi a consolidação financeira e de público da empresa, iniciando com A Maldição de Frankenstein o filão que fez do nome Hammer sinônimo de horror no mundo inteiro.

Diferente do filme de Browning, baseado em uma peça de teatro, o enfoque dado a O Vampiro da Noite é carregado de sexualidade. O Drácula de Christopher Lee encarna a própria maldade e perversão, ostentando lascivo grandes presas pontudas. Suas vítimas femininas, vestidas em corpetes decotados de onde ameaçavam saltar os seios fartos, morrem ofegantes em deleite durante a mordida fatal, numa personificação de eros e thanatos: o orgasmo na hora da morte. A produção foi realizada com a maior parte da equipe de técnicos e atores que trabalhou em A Maldição de Frankenstein, incluindo o roteirista Jimmy Sangster (que recorrera ao romance original de Bram Stoker, reduzindo bastante e modificando a história) e o diretor Terence Fisher. O ator Peter Cushing, que interpretou o caça-vampiros Van Helsing, repete com Lee a dupla antagônica do filme anterior (respectivamente o Barão Frankenstein e a criatura). Os dois se tornariam astros do cinema de horror graças a essa parceria que se repetiria muitas vezes depois. A antológica seqüência final (e que serviria de introdução para a continuação Drácula, o Príncipe das Trevas / Drácula: Prince of Darkness / 1966), em que Van Helsing persegue o vampiro pelos corredores e escadarias do castelo, terminando no embate onde o monstro é reduzido a cinzas pode ser considerado um dos marcos da história do cinema de horror.