sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Festim do Inferno (Flesh Eating Mothers / 1989)


Várias produções se debruçam atualmente sobre os pacíficos e verdejantes subúrbios americanos. Tentam mostrar, por detrás daquelas casas semelhantes e jardins bem cuidados, as contradições de uma sociedade feita de aparências e, sobretudo, explorar os recantos escuros da natureza humana. É o caso de filmes como Beleza Americana (American Beauty, 1999), de Sam Mendes ou séries de tv do tipo Desperate Hosewives e Weeds, iniciadas respectivamente em 2004 e 2005.
Entretanto, uma década antes do sofrido Lester Burnham, personagem de Kevin Spacey em Beleza Americana, desbundar e arrastar a asa para a amiga da filha adolescente, um acontecimento sinistro já esculhambava (ou ao menos tentava) os pilares familiares daquele país. Trata-se do obscuro Festim do Inferno (Flesh Eating Mothers, 1989), dirigido pelo desconhecido James Aviles Martin. O título original, por si, entrega o jogo. Ousado, Martin ataca a instituição sagrada da maternidade transformando as nem tão pacatas mamães do filme em sanguinárias canibais. Além disso, o filme traz em seu cerne uma metáfora – de tom conservador, diga-se de passagem - à AIDS, doença vista com reservas pelo cinema de primeira linha naquele período, até ser lançado Filadélfia (Philadelphia, 1993), de Jonathan Demme, com Tom Hanks no papel de um soropositivo.
Festim do Inferno, em sua trama simples e despretensiosa, começa traçando o perfil de um grupo de donas de casa, mostrando seus problemas domésticos. Algumas são abusivas com os filhos, outras sofrem do desinteresse do parceiro, uma apanha do marido alcoólatra e violento, etc. Porém, o que todas têm em comum é o fato de terem passado pela cama de Roddy Douglas (Louis Homyak), insaciável vizinho casado que não perdoa mulher alguma, exceto a própria esposa. O problema é que Douglas carrega consigo um misterioso vírus que, transmitido por via sexual, transforma as pobres mulheres em monstros canibais. A transformação acontece repentinamente (convenhamos, vocês não esperam muita coerência narrativa numa pérola dessas, não é mesmo?) e as sanguinárias criaturas começam atacando os próprios filhos. Os menores são devorados sem nenhuma cerimônia, o que pode ter causado algum embaraço na época. Afinal, mães não desmembram e devoram suas crianças, muito menos as de colo, mesmo em um filme de horror com toques de humor negro que não se leva a sério. Só isso, por si, faz com que Aviles Martin mereça algum crédito, a despeito de suas poucas qualidades como realizador.
Em meio a muita correria envolvendo as mulheres-canibais, a força policial e um grupo de adolescentes (os filhos remanescentes que se unem), quem salva a pátria é o médico legista e uma técnica de laboratório. Ambos conseguem isolar o vírus e descobrir um antídoto. Fica no ar se essas medidas seriam suficientes para impedir o avanço da praga, já que nas últimas cenas, nos mesmos moldes de um certo filme famoso de zumbis, o rádio noticia ataques de canibalismo por todo país. Mas se o diretor tinha alguma pretensão de rodar uma segunda parte, ficou na vontade. Aviles Martin só rodou mais um filme, antes de tomar seu lugar no limbo.