terça-feira, 16 de março de 2010

Graveyard Alive: A Zombie Nurse in Love (2003)



Em 1968 George A. Romero reinventou os zumbis em seu A Noite dos Mortos Vivos (The Night of the Living Dead). Desde então, foram em parte deixados de lado os velhos paradigmas que pontuavam a aparição dessas criaturas nos filmes de horror, atrelados a algum tipo de manifestação sobrenatural – no caso feitiços e vodus. A partir de então o zumbi se tornou sinônimo de contágio, da manifestação de algum tipo de praga ou degeneração da ciência humana através de experimentos mal sucedidos. Inspiração que o próprio Romero assume ter tirado do romance do escritor Richard Matheson “A Última Esperança da Terra”, em que uma pandemia transformou os habitantes do planeta em algo semelhante a vampiros. Obra que, adaptada para o cinema, rendeu três produções: Mortos que Matam (The Last Man on Earth /1964), A Última Esperança da Terra (The Omega Man /1971) e Eu sou a Lenda (I Am Legend /2007), respectivamente com Vincent Price, Charlton Heston e Will Smith como o sobrevivente Robert Neville (ou Morgan, no filme de 1964). O fato é que A Noite dos Mortos Vivos superou a idéia que o inspirou, gerando através das décadas seguintes uma proliferação de filmes de zumbis em todos os continentes, de forma amadora ou profissional, com vários níveis de orçamento. Por sua vez, os mais divertidos e criativos acabam sendo os que – de certo modo seguindo a cartilha do patriarca Romero – são produzidos de modo independente.

Dentre estes, chamou-me a atenção o criativo e bem humorado Graveyard Alive (2003) – título pomposo que tem menos a ver com o filme do que o subtítulo (este sim bem bolado e irresistível) A Zombie Nurse in Love.

Produção canadense dirigida por Elza Kephart, conta a história de Patsy Powers, uma enfermeira feiosa e desengonçada que alimenta secretamente uma paixão pelo Dr. Dox, o médico bonitão, popular entre as funcionárias do hospital. Deslocada em seu ambiente de trabalho, acaba mordida na mão por um paciente que é hospitalizado com uma doença degenerativa muito estranha. Rodado em preto e branco para parecer aquelas fitas B de ficção científica dos anos 1950, também conta com um apresentador que, à maneira de Criswell (astrólogo e canastrão que atuou nos filmes de Ed Wood), introduz o filme. A narrativa é folhetinesca, dividida em capítulos introduzidos por intertítulos espirituosos, que dão uma idéia do que vai acontecer no segmento seguinte (uma referência também aos antigos seriados do cinema).

Patsy, contaminada pela mordida, logo descobre estranhas mudanças no seu corpo. Sinais de rigor mortis aparecem, dificultando que movimente seus dedos, e sinais de decomposição surgem em sua pele. Também é arrebatada por um voraz apetite por carne humana, que começa a saciar nos cadáveres do necrotério do hospital, chegando a matar alguns pacientes desenganados para alimentar-se. O que faz com que sejam revertidas temporariamente as marcas da morte em seu corpo e desperte sua libido, aumentando o apetite sexual. Agora sedutora (um bom trabalho de caracterização da atriz Anne Day-Jones), chama a atenção do Dr. Dox (Karl Gerhardt) e os ciúmes da noiva do jovem médico, a enfermeira Goodie (a bela Samantha Slan), que sonha ser promovida a enfermeira-chefe. Esta descobre, nas anotações de um funcionário morto e devorado por Patsy (ex-médico russo expatriado), informações sobre a doença zumbi (no caso seria uma bactéria) e logo associa aos recentes acontecimentos no hospital e ao novo comportamento de sua rival.

Não é novidade para os freqüentadores do blog que estamos diante de um filme tosco, de baixíssimo orçamento e com inacreditáveis atuações (com exceção da intérprete da protagonista). O que só torna o filme mais saboroso. Elza Kephart soube com maestria utilizar essas dificuldades em seu favor, criando uma obra saborosa e com eficiente andamento. Parte disso graças ao roteiro bem amarrado que elaborou com Patrícia Gomez. Graveyard Alive é um daqueles raros momentos (tudo bem, posso estar até empolgado) no cinema atual em que o frescor das velhas produções de monstros e cientistas malucos dos tempos da brilhantina cruza com a picardia que encontrávamos na filmografia menos cotada do gênero na década de 1980 (Troma, Full Moon, etc.), sem muitas complicações dramáticas. Mas com um tempero e descontração bem atual. Só faltou um pouquinho de sacanagem.