segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

The Adult Version of Dr.Jekyll and Mr. Hyde (1972)



Fazendo um balanço da trajetória do blog desde o início, fico feliz em constatar que alcancei, neste 2009 que finda, minha meta de postagens regulares. Salvo alguma viagem ou compromisso profissional, semanalmente atualizei o Cinema Poeira. Compromisso que pretendo honrar no ano que se inicia dentro de poucos dias. Desejo a todos os amigos do blog um feliz natal e um ótimo 2010 pleno de realizações, aproveitando para anunciar um recesso para férias, estando suspensas as postagens até 20 de janeiro. Até lá! E nada melhor para encerrar o ano do que falar um pouco do filme que considero um dos melhores sexploitation da década de 1970.

Essa linha de filmes, no início daquela década (período que testemunhou a liberação da pornografia nas telas com Garganta Profunda) ousava cada vez mais na simulação do ato sexual, deixando de lado, em grande parte deles, apenas a penetração e ejaculação explícitas. Seus produtores tentavam manter o interesse do público quando a concorrência se tornava perigosa. Afinal, seu mercado sempre esteve atrelado ao fato de exibirem o que não podia ser mostrado. Porém, a crescente caminhada rumo ao sexo explícito, a abordagem de temas mais polêmicos e maior exploração de nudez no cinema convencional ameaçavam seriamente a sua sobrevivência.

The Adult Version of Dr. Jekyll & Mr. Hyde, produzido pelo lendário David Friedman e dirigido por Byron Mabe em 1972, é um bom exemplo deste período de transição. O sexo novamente se encontra com o horror na versão quase hardcore da história clássica de Robert Louis Stevenson, “O Médico e o Monstro”.

A introdução do filme é uma longa cena de sexo simulado entre o médico da trama, o Dr. Chris Leeder (Jack Buddliner), e sua enfermeira, Debby (Rene Bond, uma das mais atuantes atrizes do cinema sexploitation dos anos 60 e do hardcore do início da década seguinte, aparecendo em cerca de trezentos filmes e loops). São bem sugestivos os movimentos corporais de cópula, mostrando os corpos nus entrelaçados, sem nenhum embaraço na exibição da nudez frontal dos protagonistas. O que se perpetua durante todo o filme, faltando apenas o detalhe da penetração para romper a tênue barreira que o separa do hardcore.

Ao visitar uma loja de antiguidades com sua noiva, Cynthia, o Dr. Leeder (que nutre pela moça um interesse puramente financeiro) descobre o livro de anotações do notório Dr. Jekyll. Disposto a conseguir tão raro objeto, Leeder retorna à loja mais tarde, estrangulando o proprietário diante de sua recusa em vender-lhe o livro.

O médico torna-se obcecado pela história de Jekyll e seu perverso alter ego, Mr. Hyde. Alguns de seus crimes são mostrados em flash back, o mesmo Buddliner interpretando Hyde, exageradamente caracterizado como maníaco sexual, percorrendo, de cartola, capa e bengala, as ruas de uma nada convincente Londres vitoriana. Em um deles, a vítima é uma prostituta. Hyde chicoteia brutalmente a mulher, deixando marcas por todo o corpo. Logo em seguida amarra a mulher na cama e passa a acariciá-la, evidenciando a submissão da prostituta aos seus desejos antes de seu brutal assassinato.

Leeder acaba preparando a famosa poção, seguindo as instruções contidas no livro de Jekyll. Após a dolorosa transformação, algo parece ter dado errado: no lugar de uma cruel versão de si mesmo, o médico transforma-se – nítida inspiração no filme da Hammer O Médico e a Irmã Monstro (Dr. Jekyll and Sister Hyde, 1971) – em uma sedutora mulher. Miss Hyde (Jane Tsentas) surge de modo irreverente, com seus grandes seios rompendo a camisa de Leeder. Miss Hyde é uma perigosa ninfomaníaca, tão letal quanto seria seu correspondente masculino. Ela protagoniza a cena considerada a mais infame do filme, ao castrar um marinheiro que seduz em um bar, após ele satisfazê-la em um beco escuro.

The Adult Version of Dr, Jekyll and Mr. Hyde é cinema sexploitation em sua melhor forma, e, apesar de seu baixo orçamento, precariedade narrativa e deficiências técnicas, se mantém como um dos poucos filmes que conseguiram juntar horror e sexo, rompendo os seus limites. De certa forma, em muito lembra grande parte dos filmes pornôs do início dos anos 70, com cenas de sexo intensas amarradas por histórias sem grandes pretensões, mas repletas de criatividade. De qualquer forma, não interessa procurar grandes significados em The Adult Version of Dr, Jekyll and Mr, Hyde. Basicamente, o que importa nesta produção é o sexo e a violência, fatores que o tornaram representativo dentro do gênero.