domingo, 7 de fevereiro de 2010

Como um pequeno estúdio fundo de quintal revitalizou o horror – Hammer Films – Parte 1


No final dos anos 50, com o cinema de horror norte americano preocupado com invasões alienígenas e monstros atômicos, os velhos monstros do passado em seus castelos e cenários lúgubres eram apenas uma lembrança de tempos menos atribulados. Ainda que não definitivamente sepultados, foram apartados da cena principal pelo esgotamento de uma produção que se repetia em seqüências cada vez menos inspiradas e se arrastou pela década de 1940. Os prolíferos monstros da Universal terminaram seus dias derrotados pelo próprio estúdio que os trouxe à luz, como coadjuvantes da dupla de comediantes Abbott e Costello (Abbott & Costello Meet Frankenstein/1948). Talvez por saudosismo (ou escapismo dos novos problemas que se configuravam em um cenário mundial cada vez mais complexo e ameaçador), um passo significativo foi dado para um reencontro com o horror gótico, com a liberação para a tv dos filmes de monstros da Universal. O programa Shock Theatre (1957) tornou-se, além de um exercício de nostalgia, um meio de familiarizar a nova audiência com os personagens clássicos e seu universo, incentivando uma leva de produções baratas para a telinha.

Essa revitalização, que também ocorria em outras partes do mundo (como o mexicano El Vampiro/1957, de Abel Salazar - tema de post anterior), teve como marco principal uma pequena companhia britânica. A Hammer Films viria tornar-se sinônimo de filme de horror e referência para o que seria feito durante os anos subseqüentes, passando de linha de produção ao conceito hammer horror. Isso em um país que, apesar de exportar seus monstros para o cinema americano, não tinha tradição nesse gênero cinematográfico. Grandes monstros da literatura, como Frankenstein, Dr. Jekyll e seu alter-ego Mr. Hyde, o Conde Drácula e o Homem Invisível, como nos lembra o autor Denis Gifford (Horror Movies, Hamlyn, 1976), são todos de origem inglesa, assim como boa parte dos mais importantes intérpretes do gênero que assombraram Hollywood nos anos 30 e 40: Boris Karloff, Colin Clive, Charles Laughton, Claude Rains, Basil Rathbone e Cedric Hardwicke. Isso sem falar que as Ilhas Britânicas foram o lar de Sherlock Holmes, Jack, o Estripador, dos ladrões de cadáveres Burke e Hare, dos castelos assombrados e dos espetáculos teatrais que exploravam a violência em seus melodramas bem ao gosto vitoriano. Mesmo assim, o horror continuava praticamente ignorado na filmografia local e somente os estúdios de Hollywood perceberam que ali estava o ambiente perfeito para suas produções góticas, recriando em seus sets as ruas enevoadas de Londres e as charnecas interioranas. É interessante ressaltar que quando o Drácula de Browning estreou na Inglaterra apavorando os censores, estimulou uma pequena produção que teve como ponto alto o filme No Silêncio da Noite (Dead of Night, 1945), dividido em histórias sobrenaturais (antevendo a série de produções de horror em episódios da rival da Hammer, Amicus) dirigidas por vários diretores, entre eles o brasileiro Alberto Cavalcanti.