terça-feira, 9 de março de 2010

Dentes, peitos e kung fu - Hammer Films - Parte 4.


Terminando esse brevíssimo histórico da Hammer, no início dos anos 1970 as companhias inglesas – encabeçadas por ela e sua concorrente, Amicus – já estavam em declínio, mas ainda tinham algum fôlego. Ambas acabaram se perdendo em produções caça-níqueis que repetiam velhas fórmulas e não se adaptaram aos novos direcionamentos do público. A Hammer investiu no horror gótico até meados daquela década, produzindo, de modo semelhante à Universal, filmes em série com seus personagens principais, enquanto a audiência minguava.

A busca por reencontrar seu público, se adaptando aos novos tempos, resultou em uma série de tentativas fracassadas e desencontros. Enveredou pelo sexploitation, com um aumento considerável do sexo e da violência. Os decotes aumentaram e a nudez frontal feminina pronunciou-se. Vampirismo e lesbianismo entraram na ordem do dia, representados pela trilogia de filmes baseados no romance Carmilla, de Sheridan Le Fanu: The Vampire Lovers (1970), dirigido por Roy Ward Baker; Luxúria de Vampiros (Lust fora a vampire /1971) com a apetitosa dinamarquesa Yutte Stensgaard e, fechando a trilogia, o atmosférico As Filhas de Drácula (título brasileiro para Twins of Evil), dirigido por John Hough, do mesmo ano. Condessa Drácula (Countess Dracula, também de 1971) é outra tentativa dentro dessa linha, re-interpretando a história da notória Condessa Bathory, interpretada por Ingrid Pitt, a Carmilla de The Vampire Lovers.

A Hammer também tentou, infrutíferamente, adaptar seu personagem principal, o Conde Drácula, aos dias de hoje, transportando o velho vampiro para a swinging London do início dos anos 70 em Drácula no Mundo da Minissaia (Dracula A.D. 1972) e Os Satânicos Ritos de Drácula (Count Dracula and his vampire bride/1973), já comentado no blog. Iniciativa desencorajada pelo roteirista Anthony Hinds, que recusou-se a escrever a história e desaprovada pelo astro Christopher Lee, já descontente com os rumos que o personagem tomava.

O golpe definitivo para os vampiros da Hammer não foram as cruzes ou as estacas de madeira, mas o fracasso (mais um para acelerar a descida ao fundo do poço da companhia) da co-produção com uma empresa de Hong Kong – os Shaw Brothers - em que esperavam capitalizar o sucesso da recente onda de filmes de artes marciais popularizados no ocidente por Bruce Lee, unindo vampiros e lutadores de kung fu em The Legend of the Seven Golden Vampires ou The Seven Brothers Meet Dracula/1974. O filme traz pela última vez Peter Cushing como o caçador Van Helsing. Christopher Lee, que se recusava a interpretar novamente o conde vampiro para qualquer produção da Hammer, cedeu o papel para John Forbes-Robertson.

Restava para a companhia uma última cartada. Nos Estados Unidos um novo monstro alavancava as bilheterias usando o corpo de uma adolescente: o demônio. Com o sucesso de O Exorcista (1973) a Hammer se aventuraria a colocar também uma jovem no cerne de uma conspiração satânica em Uma Filha para o Diabo (To the Devil a Daughter /1976). Que já foi tema de uma postagem anterior.