quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Do fundo de quintal para o espaço - Hammer Films - Parte 2


As verdadeiras origens da Hammer Films remontam a 1913, quando Enrique Carreras comprou seu primeiro cinema em Hammersmith, Londres, negócio que ele foi gradualmente ampliando, desenvolvendo uma rede de salas de exibição. Carreras fez sociedade com William Hinds, este último um homem de negócios no ramo das jóias, metido no teatro de variedades com o nome artístico de Will Hammer. Juntos estabeleceram em 1935 uma companhia distribuidora de filmes, a Exclusive Films Ltd., trabalhando com filmes baratos e de baixa qualidade. Após a Segunda Guerra, a Hammer - então subsidiária da Exclusive - incentivada a produzir filmes para suprir o mercado inglês, recebeu o impulso necessário para se reformular e tentar uma melhor posição no mercado. Foram produzidas várias fitas modestas, de curta duração, em sua maioria thrillers de ação, espionagem e ficção científica. Os programas de rádio ingleses da época também serviram de base para algumas produções.

Empresa de pequeno porte, a Hammer conheceu o sucesso comercial com algumas produções de ficção científica ainda nos anos 50, bem acima da média do que se fazia no período. A opção pela science-fiction explica-se facilmente, já que durante a década de 50 as audiências cada vez mais encontravam seu entretenimento diário na tv, forçando os cinemas a oferecerem mais pelo dinheiro pago pelos ingressos e reconquistar o público. Muitos cinemas viram-se, inclusive, obrigados a fechar as suas portas, reduzindo as bilheterias disponíveis, o que por sua vez diminuiu os rendimentos - as companhias inglesas se beneficiavam de um recebimento fixo estabelecido indiferente ao êxito das produções. Os filmes se tornaram mais longos e foram introduzidas inovações como o CinemaScope. Para conseguir ser sucesso internacional um filme necessitava, então, de astros de primeira grandeza - muito além dos recursos de uma pequena companhia como a Hammer - ou de algum aspecto de apelo extraordinário para compensar sua ausência. A Hammer, tendo à frente Michael Carreras e Anthony Hinds, encontrou esse último elemento com a ficção científica Terror que Mata ( The Quatermass Xperiment - com essa ortografia arranjada para enfatizar o "X"(*) que determina o certificado de filme somente para adultos). Terror que Mata (1955) foi o primeiro empreendimento da Hammer que veio a tornar-se um grande sucesso internacional, e não por coincidência, dentro do filão explorado pelo cinema americano de “ameaça alienígena”, de grande apelo popular. Com a diferença que tinha um argumento mais elaborado e assustador. Derivado de uma série que fez sucesso na tv em julho/agosto de 53, o filme dirigido por Val Guest narra a história do professor Quatermass, o homem que pôs no espaço o primeiro foguete britânico e investigava o desaparecimento de dois astronautas em seu retorno. O único sobrevivente era afetado por misteriosas mutações e lentamente sucumbia à força alienígena que o possuía e transformava em um monstro que terminava sendo eletrocutado nas proximidades da Abadia de Westminster. É importante deixar claro que, a princípio, a Hammer não tinha interesse em um gênero específico – mesmo o horror ao qual teria seu nome ligado para sempre - , mas sim em direcionar a produção para o que poderia render algum dinheiro.

(*) O certificado “X” foi criado pelos censores ingleses em 1951 para classificar os filmes que continham maior conteúdo de violência, sexo e/ou horror, substituindo ao antigos certificados “A” (“horrific in character”) e “H”, introduzido em 1937 e que significava, invariavelmente, proibição de veiculação.