quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Signo de Escorpião (1974) - o inferno astral de um diretor.


Em 1974, o cineasta Carlos Coimbra – o mesmo do embaraçoso Independência ou Morte (1972) – produziu (com verba da Embrafilme) e dirigiu O Signo de Escorpião, filme de suspense na linha das histórias de Agatha Christie e tema recorrente no cinema: pessoas isoladas em um lugar sinistro são mortas por assassino misterioso. Segundo o diretor, na biografia escrita por Luiz Carlos Merten (Coleção Aplauso - Imprensa Oficial), a idéia de vincular os crimes aos signos zodiacais partiu de seu irmão, Sérgio. Vale uma lembrança: em 1974 ainda estavam em voga os assassinatos em série cometidos nos Estados Unidos pelo Zodíaco. Coincidência?
A trama é simples e batida: doze pessoas são convidadas pelo Professor Alex, astrólogo endinheirado, para passar o fim de semana na sua mansão,em ilha particular. Lá pretende experimentar uma máquina que faria a previsão astrológica de forma científica. No melhor estilo "Agatha Christie encontra Jason", os convidados vão sendo abatidos um por um, ficando os sobreviventes envolvidos em todos os clichês do gênero: desconfianças, desentendimentos, etc.
A trama, assessorada pelo astrólogo Omar Cardoso, famoso nos anos 1970, começa no iate que leva o grupo à ilha. Conhecemos então os personagens, entre eles a repórter Gilda (Maria Della Costa), a loura burra Ângela (Kate Lyra, lindíssima) e o galã de novelas interpretado de forma constrangedora pelo compositor Carlos Lyra (que deveria ter continuado com seu banquinho e violão ao invés de se aventurar no cinema).
Eles são recepcionados pelos empregados do anfitrião, Samuel (Sandro Polonio) e Marta (a sempre sinistra Wanda Kosmo - a bruxa de Exorcismo Negro, do Mojica, do mesmo ano). É dela a pérola, quando chocada com os modos dos integrantes do grupo: “Os convidados do patrão trazem pecado e podridão”. Logo em seguida, eles encontram o Professor Alex (Rodolfo Mayer), que explica porque os reuniu, cada um representando um signo do Zodíaco. Ele apresenta sua invenção, o cérebro-eletrônico – engenhoca desenvolvida pelo próprio diretor com a colaboração de Miro Reis – que daria ao filme um toque de ficção científica, já que em 1974 computadores não eram tão comuns. A máquina daria as previsões astrológicas definitivas, já que estava programado com todo o conhecimento astrológico reunido por seu inventor.
A primeira a morrer é Sônia (Maria Viana), secretária do astrólogo. Enquanto os outros convidados caem na farra após o jantar, com direito à bebida, rock’n’roll e um strip-tease da japonesa Satiko (Elza Tsugawa), Sônia resolve nadar pelada. Pouco depois aparece estrangulada, iniciando assim a seqüência de mortes. A partir daí as coisas vão se complicando. Eles descobrem que o rádio estava danificado, assim como o iate, e que estavam prisioneiros com um assassino entre eles. As cenas de violência são discretas. Porém, há alguma ousadia gráfica que merece destaque, como o personagem encontrado morto com uma âncora fincada no corpo.
Esse Caso dos Dez Negrinhos tupiniquim também é contido nas cenas de sexo. Na verdade, ficamos todo o tempo esperando um pouco mais da Kate Lyra. Mas não podemos esquecer que a produção é de 1974 e o sexo, assim como outras coisas boas da vida, não era muito apreciado pelos nossos governantes, muito menos pelo órgão responsável pela moral e bons costumes: a Censura. Destaco com louvor um trecho do filme: a macumba protagonizada pela empregada Marta, com direito a círculo de pólvora, ivocação a Satã e imagens do nosso sicretismo religioso, com seus santos e pomba-giras.
Apesar de todo o empenho e entusiasmo, o tiro de Carlos Coimbra saiu pela culatra (assim como os bons augúrios do astrólogo Cardoso). Fracasso retumbante, O Signo de Escorpião quebrou Coimbra, que teve que devolver aos cofres da Embrafilme a antecipação da verba de produção (mais tarde com a renda de Iracema, a Virgem dos Lábio de Mel – 1978 ).
O filme, inegavelmente, envelheceu bastante nesses mais de trinta anos. Principalmente pela história em si. É como comer comida requentada de véspera. Mesmo assim, vale embarcar na estética do cinema brasileiro da época, principalmente daquele visual feio e sujo imposto pela falta de grana, das roupas, dos cabelos, da cafonice, da vulgaridade e da sensacional cafajestice.