terça-feira, 23 de setembro de 2008

Banquete de Sádicos (1963) e o nascimento do splatter


Em 1963, graças à associação do produtor de filmes exploitation David Friedman com o diretor Herschell Gordon Lewis, foi quebrado um grande tabu do cinema: a exibição explícita do sangue e vísceras humanas que nenhum estúdio sequer ousava admitir, com Banquete de Sádicos (Blood Feast), rodado com um orçamento de 24 mil dólares em apenas quatro dias na Flórida. Filme que inaugurou o splatter, já sugerindo o canibalismo, tema recorrente no cinema de horror dos anos 70 em diante.
Banquete de Sádicos (lançado aqui em VHS há muitos anos por uma certa Sunrise) conta a história de Fuad Ramsés, um egípcio radicado em Miami, adorador da deusa babilônia Ishtar, a quem oferece sacrifícios. Seu objetivo é realizar uma grande cerimônia para a qual recolhe partes dos corpos das jovens mulheres que assassina em dias consecutivos. Este antigo ritual requer a degustação de um tipo de ensopado feito com os órgãos e membros que remove, o que serve de motivo para serem mostradas cenas de sangue-e-tripas inéditas até então. As vítimas de Ramsés são torturadas, mutiladas e evisceradas. Temos olhos removidos, membros amputados, línguas arrancadas, órgãos internos extraídos e muito, muito sangue. Tudo muito explícito e exagerado, com a câmera se detendo lentamente em cada detalhe.
É importante ressaltarmos que Banquete de Sádicos antecipa as principais convenções que viriam a ser incorporadas à fórmula básica dos filmes slasher, anos depois. A própria trama é um protótipo do gênero: um maníaco que mata e mutila em série jovens atraentes, em geral em alguma situação envolvendo nudez e sexo (a primeira vítima de Fuad Ramses está despida na banheira, a segunda prestes a fazer amor com o namorado na praia, etc.).
Mas se o filme choca pelo teor das imagens, fica patente o caráter absolutamente falso das mesmas, pelo próprio exagero a elas inerente. O que é reforçado pela pobreza da produção e amadorismo, com péssimas atuações e diálogos. Lewis se aproveita disso, revestindo o seu filme mais marcante com o espírito do grand-guignol, criando uma sangrenta comédia de humor negro.
Graças ao sucesso do filme, Friedman e Lewis produziram nos anos seguintes mais dois filmes que iriam, junto com Banquete de Sádicos ficar conhecidos como “A Trilogia de Sangue”: Maníacos (2000 Maniacs! - também lançado por aqui pela mesma Sunrise), em 1964, e Color Me Blood Red (1965).
A parceria entre H. G. Lewis e David Friedman terminou em 1965. Em 2002, tendo como produtor executivo o antigo parceiro, dirige Blood Feast 2: all U can eat, uma continuação para Banquete de Sádicos, onde o neto do egípcio Fuad Ramses continua o trabalho sangrento do avô. Na verdade, uma refilmagem contando com os recursos atuais de efeitos especiais para as cenas mais extremas.