quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sexo e Vampirismo no Cinema - Parte 3 (Final)


Foi com desconfiaça, portanto, que assisti Dark Angels (2000), dirigido por Nic Andrews. E confesso que me surpreendi. Produção bem cuidada, efeitos especiais, elenco bonito... e uma narrativa convincente e bem amarrada. Tanto que se esquecermos as cenas de sexo explícito, poderia muito bem passar por um filme de horror B, bem ao estilo de Fred Olen Ray. Dark Angels, que foi eleito em 2001 pela AVN (o Oscar do pornô americano) como melhor filme e também venceu o 9th Erotic Awards 2002, recorre aos clichês que se tornaram lugar comum nos filmes de vampiros a partir dos anos 80. Esbanjando visual moderninho e edição de videoclip, conta a história de uma jovem (Jewel De Nyle – o nome de guerra dela é esse mesmo) que testemunha o assassinato de um homem (o veterano Mike Horner, presença sempre bem vinda) por uma vampira ((Sydnee Steele). Esta, líder de um clã de chupa-sangues, passa a perseguir a pobre moça, que passa a ter sonhos estranhos e sangrentos. Após um desses devaneios, em que se entrega à rainha vampira, repara a marca de mordidas em sua coxa. Socorrida pelo policial (Dillon Day) que investiga os crimes ligados aos mortos-vivos, acaba morrendo na sala de emergência do hospital, retornando como vampira na geladeira do necrotério (onde protagoniza uma seqüência de sexo com o legista). Sabendo estar condenada, sai atrás do grupo de vampiros em busca de vingança.
Esse elemento, do vampiro renegado (ou aspirante recém-transformado), que não quer fazer parte do grupo a que pertence preferindo a morte à eternidade mantida com sangue é bastante comum na reformulação por que passou a mitologia vampiresca nas últimas décadas. São vários os exemplos, desde filmes como Os Garotos Perdidos (The Lost Boys/1987) e Quando Chega a Escuridão (Near Dark, 1987), até séries de tv como as extintas Maldição Eterna (Forever Knight/1992-1996), Buffy – A Caça Vampiros e Angel (este o melhor exemplo por, além de negar a sua espécie graças à “alma” recuperada, caçar e matar os seus semelhantes). Também o visual do filme se adequa ao padrão “neo-gótico” em voga, substituindo as antigas e empoeiradas capas. Usam roupas pretas, acessórios em couro, óculos escuros, piercings e tatuagens, em ampla conexão com o universo fetichista.
A abertura do filme – a meu ver a melhor seqüência – é francamente inspirada no filme de Tony Scott Fome de Viver (ThItálicoe Hunger/1983) e, principalmente, o primeiro Blade (1998). Nesse trecho inicial, passado em um night club onde rola uma rave, seguimos a bonita morena Rachel (Ginger Paige – sim, senhoras e senhores, o ponto alto do vídeo), em busca de companhia. Vale a pena aqui uma nota para quem viu Blade: a seqüência inicial do filme (aqui parcialmente reproduzida) com Wesley Snipes, é protagonizada pela ex-atriz pornô e musa deste modesto escritor, Traci Lords. Em Dark Angels, Rachel encontra um rapaz e, após rápido entendimento, seguem para o banheiro do night club onde fazem sexo. O resultado final é um banho de sangue memorável, com a jovem vampira atacando a dentadas sua vítima.
As cenas de sexo do filme são bastante convencionais, o que pode caracteriza-lo como “filme para casais” – denominação comum para pornôs com história e ousadia limitada para os atos explícitos. Em Dark Angels, seguem inevitavelmente a fórmula garota-chupa-rapaz, rapaz-chupa-garota, penetração frontal. Nada de sadomasoquismo, transa anal, dupla-penetração ou alguma modalidade menos “comportada”. Na verdade, o sexo se integra na narrativa, em nenhum momento se configurando como elemento predominante. Tanto que, como já dissemos, poderia ser suprimido sem prejudicar o filme como um todo.
Vale destacar também as convincentes cenas de ação (como a luta entre o policial e um dos vampiros), os efeitos especiais (ferimentos de bala, a desintegração dos vampiros, as estacas perfurando os corpos e a transformação da rainha vampira em uma morcegona), a trilha sonora (a cargo de Derik Andrews e Inversion 89) e a maquiagem. Os fetichistas de plantão vão delirar com as mulheres do filme, seminuas, ostentando presas pontudas e sangrentas.
Dark Angels não está sozinho nessa onda de filmes que mesclam o velho e bom hardcore ao temas de horror. Outros foram produzidos desde o final dos anos 90 com bons resultados, entre eles Les Vampyres (2000 – com seqüência em 2002), de James Avalon; Pornogothic (1998), de Jonathan Morgan e Skin XVII: Succubus (1999), de Toshi Gold. Dark Angels também gerou uma continuação: Dark Angels 2: Bloodline (2005). Ambos lançados em DVD pelo selo Sexxxy.