quinta-feira, 27 de maio de 2010

Antes de Tim Burton: relembrando o Dark Shadows original.



Conforme vem sendo noticiado, Tim Burton pretende levar às telas em 2011 sua versão da cultuada Dark Shadows, infelizmente pouco conhecida do espectador brasileiro. Vale então, uma breve introdução a esse momento muito especial do horror na televisão.

Novela diurna gótica transmitida pela rede norte-americana ABC entre junho de 1966 e abril de 1971, foi idealizada pelo prolífico Dan Curtis (1927-2006) ainda em 1965, segundo a lenda a partir de um estranho sonho em que via uma jovem em um trem, com destino a uma antiga propriedade. Deve-se ressaltar a relevância de Curtis para o gênero, notadamente na produção e direção de telefilmes – os dois longas com o personagem Kolchak, The Night Stalker (1972, dirigido por John Llewellyn Moxey) e The Night Strangler (1973) e o incensado The Norliss Tapes (1973), por exemplo – e longas para a tela grande, como o Drácula (Dracula, 1973), encarnado pelo ator Jack Palance, e o fantasmagórico Burnt Offerings (1976).

A idéia, aprovada pela emissora ABC, acabou nas mãos do roteirista Art Wallace – responsável também pelo sugestivo título -, que usou como base um script de sua autoria, sobre mulher que teve o marido desaparecido, reclusa em uma casa sombria. Na nova trama, para lá se dirige a heroína do sonho de Curtis, Victoria Winters (interpretada pela atriz Alexandra Moltke), contratada como governanta em uma tétrica mansão no Maine. Denominada Collinwood, na casa viviam a aristocrática Elizabeth Collins Stoddard, seu irmão pinguço Roger e suas respectivas crianças, Carolyn e David.

O show inicialmente não apresentaria elementos sobrenaturais, mas a baixa audiência fez com que um desesperado Curtis incluísse na trama, poucos meses após a estréia, o inusitado fantasma da antepassada Josette Collins, que surge saindo de um retrato. A ousadia (para os padrões da tv da época em termos de soap operas) foi bem sucedida, levantando a audiência, que com o decorrer do tempo chegou a ultrapassar os 15 milhões de telespectadores, e dando novo alento à produção. Resultando em seguida numa trama envolvendo magia negra, definindo os rumos que Dark Shadows tomaria, assumindo o horror e o fantástico como mola mestra, com novos e aterrorizantes subplots que se sucediam. Este redirecionamento se cristalizou em abril de1967 no episódio 210, com a inclusão do personagem que se tornaria o mais famoso da novela: o vampiro Barnabas Collins. Tanto que para muitos, Dark Shadows realmente se inicia nesse episódio, ficando a primeira parte no esquecimento. Não é de estranhar, portanto, que em exibições posteriores este primeiro segmento fosse ignorado, sendo o programa transmitido a partir da chegada de Barnabas. Somente uma vez, em 1992, o Sci Fi Channel passou o programa na íntegra, desde o primeiro episódio com a chegada de Victoria Winters a Collinwood.

O vampiro, que inaugurou nova era para Dark Shadows foi interpretado pelo ator de teatro canadense Jonathan Frid. Criado nos moldes do Drácula de Bram Stoker, ele é despertado de seu sono secular pelo mal intencionado Willie Loomis, que abre a sepultura do monstro para roubar supostas jóias ali enterradas. Fazendo-se passar por um primo recém chegado da Inglaterra, Barnabas integra-se na narrativa e no cotidiano de Collinwood. Vale ressaltar que a participação do personagem seria temporária, mais uma atração do programa. Porém, seu grande e inesperado sucesso fez não só com que Dan Curtis o mantivesse até o final, mas também incluisse na trama lobisomens, bruxas, zumbis e toda uma gama de indivíduos ou entidades monstruosas que já povoavam a cultura popular por intermédio da literatura e produções cinematográficas em explícitas apropriações. Até situações ainda raramente exploradas na televisão fora de seriados de ficção científica e fantasia como Quinta Dimensão (The Outer Limits) e Além da Imaginação (Twilight Zone), ganharam espaço na longa novela: viagem no tempo e universos paralelos. Segundo J. Gorodn Melton, em O Livro dos Vampiros (Makron Books, 1995) Dark Shadows “criou a mais elaborada e complexa alternativa à história de Drácula na moderna mitologia. Foi exibido para um público cada vez maior desde o momento em que Barnabas foi incluído no enredo”.

O universo de Dark Shadows se expandiu em diversos produtos: bonecos, álbuns de figurinhas, discos, histórias em quadrinhos, livros, etc. Após o encerramento em 1971, se manteve vivo nas reprises e edições em vídeo (*). Dois longametragens foram produzidos para o cinema com direção do próprio Curtis, Nas Sombras da Noite (House of Dark Shadows, que foi rodado em 1970, ainda durante a vigência da série) e A Maldição das Sombras (Night of Dark Shadows /1971), que serão tema de futuras postagens. John Kenneth Muir, em Terror Television (McFarland & Company, 2001) sugere ser a produção de horror de Curtis equivalente a outra série da tv norte-americana: a cult Star Trek, de Gene Roddenberry. Ambas, segundo o autor, foram concebidas em 1966, e inesperadamente sobrepujaram seu evidente baixo orçamento e curta duração, tornando-se por seus próprios méritos um fenômeno da cultura popular.

Em 1991, a NBC levou ao ar uma nova versão de Dark Shadows, com o ator inglês Bem Cross no papel que anteriormente pertenceu a Jonathan Frid. Essa tentativa de revitalizar o antigo sucesso infelizmente não emplacou, apesar das críticas positivas, sendo rodados apenas 12 episódios que chegaram a ser exibidos no Brasil anos depois pelo canal MGM.


(*) A novela foi lançada pela MPI, primeiramente em vídeo e atualmente está disponível em duas séries de DVD, uma delas dedicada aos episódios da fase anterior ao surgimento de Barnabas. Disponível na Amazon.


Saiba mais sobre Dark Shadows em:


http://www.darkshadowsonline.com/dso-dark.html


http://en.wikipedia.org/wiki/Dark_Shadows


Compacto dos episódios 210 e 211, em que o vampiro Barnabas Collins chega a Collinwood:


http://www.youtube.com/watch?v=3Q7QhRr5NaU


http://www.youtube.com/watch?v=L2jFPPywN7A