terça-feira, 4 de maio de 2010

Gritos en la Noche (1962)


O grande expoente do exploitation espanhol, o famigerado Jesus Franco (ou Jess Franco), em atividade até hoje, dirigiu desde o final dos anos 50 até hoje quase duzentos filmes dos mais variados gêneros, transitando da comédia musical ao horror, passando pelo drama, selva, ação, pornô, etc. Na verdade, é difícil estabelecer a prodigiosa quantidade de filmes dirigidos por Franco (existem estimativas que inclusive superam esse número), já que boa parte deles foi assinada com pseudônimos, ou mesmo com mais de uma versão (algumas incluindo cenas de sexo explícito) e títulos diferentes de acordo com o mercado-alvo. Soma-se a isso o fato de a maior parte da produção deste cineasta não ter sido rodada em seu país de origem, inclusive por causa da censura do regime do “generalíssimo” de mesmo sobrenome, o que fez com que ele se radicasse na França e seus filmes tenham várias nacionalidades, muitos em co-produção com a Alemanha.

Gritos em la Noche (também conhecido pelo título norte-americano The Awful Dr. Orloff), de 1962, é um dos trabalhos mais conhecidos de Franco e ainda um dos grandes marcos em sua filmografia. Nele conseguiu fundir com naturalidade elementos de perversão sexual, morbidez e horror, equilibrando-os na construção de uma atmosfera que poderia remeter aos filmes da Hammer que lhe serviram de inspiração, indo até mais longe ao mesclar elementos do gótico com o noir.

A trama é parecida com a do clássico Olhos sem Face (Les Yeaux Sans Visage, 1960) de Georges Franju Franju, com a diferença de que com Franco a poesia do filme anterior é substituída, sem rodeios, por elementos de violência, suspense e terror em uma estrutura narrativa mais própria dos filmes de horror. No filme, Dr. Orloff tenta recuperar a face destruída de sua filha através de enxertos da pele que arrancava dos rostos das mulheres raptadas por seu fiel Morpho, um cego zumbificado de tendências necrófilas. Porém, os ideais do médico vão além do amor paterno, se perdendo em desvios de conduta que deixam entrever o seu lado sádico e psicopata.

Gritos em la Noche, que passou cortado na Espanha, é o trabalho mais convencional de Franco, gerando uma seqüência, El Secreto Del Dr. Orloff (1964) e uma refilmagem, Los Depredadores de la Noche (mais conhecido como Faceless, 1988), trazendo a história para a Paris dos anos 80 com mais sangue e violência.