quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Diário dos Mortos (2007) - Parte 2


Em Diário dos Mortos, toda a narrativa se desenvolve através do ponto-de-vista da câmera, fazendo com que o espectador veja através de sua lente, colocando-se no lugar do operador. Artifício utilizado já nas primeiras cenas, que mostram a gravação de uma tragédia familiar por uma equipe de tv. Enquanto a repórter, em primeiro plano, narra o ocorrido – pai desesperado mata mulher e filho a tiros – os cadáveres ao fundo começam a se erguer das macas onde esperavam a vez de serem conduzidos ao rabecão. Alheia, a jornalista não percebe (apesar do operador que tenta alertá-la sem tirar os olhos do visor) que os mortos atacam os paramédicos e são confrontados pelos policiais que guardavam a cena do crime. Por fim, um deles (a mulher) se aproxima por trás da repórter e ataca a dentadas – referência a seqüência emblemática de Despertar dos Mortos.
Após essa introdução, o ponto-de-vista passa a ser o do jovem estudante de cinema Jason Creed (Joshua Close), que realiza para a faculdade um filme de múmia fuleiro com a ajuda de colegas e a supervisão de um professor. Produção que serve de pretexto para algumas brincadeiras com alguns clichês do gênero e remete ao próprio início de Romero como diretor, quando rodou A Noite dos Mortos Vivos com baixíssimo orçamento e a colaboração de amigos. Logo, a inepta equipe fica sabendo pelo noticiário dos recentes acontecimentos, o que causa pânico e encerramento das gravações. Com o intuito de sair do local isolado onde se encontravam, pegam a estrada, passando Creed a ter como objetivo documentar a bizarra ocorrência.
Com isso, Diário dos Mortos se apropria das convenções do cinema documentário, onde além de vermos pelas lentes da câmera de forma subjetiva, passam a ser feitas interferências com entrevistas e asserções da própria equipe, assim como o registro de seus conflitos perante uma situação desconhecida e crítica. O diretor e câmera só são vistos quando surgem outros dispositivos de gravação, tornando possível a abordagem por diferentes olhares, como da namorada de Creed, Debra (Michelle Morgan), por exemplo. Recurso bastante eficiente e criativo usado por Romero, tanto para proporcionar uma aproximação maior com o espectador, quanto reforçar a construção narrativa dando maior dinamismo. Artifício complementado com a diversificação de ângulos através de imagens captadas de aparelhos de vigilância e telas de tv e computadores. Essa onipresença da câmera é o tempo todo colocada em questão, já que ao mesmo tempo que impele os personagens que dela se apoderam a registrar compulsivamente tudo o que vêem e traduzir o mundo pela lente do aparelho (é crível no âmbito do registro), promove uma desumanização do documentarista perante seu objeto. Uma clara alusão à postura adotada pelos meios de comunicação perante atrocidades e tragédias.
Por tudo isso, Diário dos Mortos é uma grata recompensa para os fãs de Romero, que não só têm a oportunidade de ver seus zumbis preferidos de volta em um filme de horror violento e bem amarrado, como também renovado e repleto da verve inconformista de George Romero.