segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Quem tem medo de fantasma? - Umas palavrinhas sobre Atividade Paranormal.



Em tempos de Atividade Paranormal, (Paranormal Activity) produção de horror e fenômeno de marketing alardeado como sucessor da Bruxa de Blair (The Blair Witch Project /1999) que tem lá seus momentos (afinal, que não fica aterrorizado com a idéia de ser assombrado e perseguido por uma entidade sobrenatural hostil?) e termina mal resolvido, algumas coisas devem ser relevadas. Em primeiro lugar, como sabemos, fantasmas não são novidade nas telas. Sendo que na década de 60 foram produzidos os dois mais emblemáticos filmes sobre casas mal assombradas e atividades paranormais, que rapidamente citei anteriormente quando fiz minha postagem sobre A Casa da Noite Eterna (The Legend of Hell House / 1973). São Os Inocentes (The Innocents/1961) e Desafio do Além (The Haunting/1963). Ambos adaptados de sofisticadas e ambíguas obras originais: Os Inocentes de A Volta Do Parafuso, de Henry James e Desafio do Além de A Assombração Da Casa Da Colina, de Shirley Jackson.

As duas produções - bem distintas uma da outra - apresentam alguns pontos em comum. Um deles é o fato de que tanto Jack Clayton em Os Inocentes, quanto Robert Wise em Desafio do Além, enfatizam através de uma construção psicológica bastante apurada,a repressão sexual dos personagens que, em parte, se converteria nos fantasmas que os assombravam. Outro aspecto comum é a discrição em revelar os fantasmas. Ficamos o tempo todo na dúvida se realmente há algum ou se estamos testemunhando projeções de mentes confusas e problemáticas. Também nas duas realizações foi cuidadosamente construída uma apreensiva atmosfera, pesada e obscura, onde realmente um fantasma gostaria de perambular.

Talvez o que falte às novas produções - essa ambigüidade envolvendo as manifestações sobrenaturais, a caracterização psicológica mais aprofundada dos personagens e o saber como contar uma boa história - seja compensado pelo o atrativo que esse formato de falso documentário exerce sobre o público (aí incluída a geração you tube), que pode se sentir mais próximo do retratado por uma aparente imersão na “vida real”. O que é reforçado pelo caráter independente, o evidente baixo orçamento e a cara de pau na simulação de tomadas domésticas, sustentadas por um cast de desconhecidos. Estes colocados em situações cotidianas que criam uma crescente atmosfera de medo pontuada por sustos e relação forte com as expectativas do espectador acerca do registro e constatação de vida após a morte. As mesmas expectativas – nunca realmente satisfeitas, diga-se de passagem - excitadas pelas supostas fotos espíritas ou filmagens em que surgem vultos ou luzes misteriosas. No que Atividade Paranormal é bem sucedido ao trazer para bem perto esse universo de confronto com o desconhecido, com o mundo invisível que nos cerca – de acordo com as teorias espíritas – e sua interação nem sempre bem vinda com os vivos. Dentro dessa premissa, ainda que possamos ligar Atividade Paranormal a filmes como A Bruxa de Blair (ou o menos conhecido O Mistério de St. Francisville/The St. Francisville Experiment - 2000) pelo modelo como são feitas as tomadas, vejo como a grande fonte de inspiração temática outro tipo de documentário, mais tradicional no formato, que pode ser visto há alguns anos em canais por assinatura. Como Ghost Hunters do Sci-Fi Channel e, notadamente, Assombrações (A Haunting), série exibida no Discovery Channel onde pessoas comuns são envolvidas em situações assustadoras ocasionadas por entidades maléficas, iniciada em 2002 com o aterrorizante docudrama Assombrações em Connecticut (A Haunting in Connecticut). Muito mais eficiente do que a produção recente Evocando Espíritos (The Haunting in Connecticut / 2009) sobre o mesmo caso.