quarta-feira, 14 de abril de 2010

Lobisomens Sobre Rodas (Werewolves on Wheels - 1971)



Imagine um bando de motoqueiros cruzando as rodovias desoladas que cortam o deserto norte-americano e arrumando brigas e confusões por onde passam. Junte a isso uma trilha sonora no estilo Steppenwolf (aqueles cabeludos que tocavam Born to be Wild). Tempere isso tudo com sexo, drogas e muita porrada, daquelas tipo briga de bar. Se pensou em Sem Destino (Easy Rider), a grande contribuição do doidão Dennis Hopper para o cinema, errou feio!

Pra ficar mais fácil adivinhar, que tal acrescentar a essa mistura alguns rituais satânicos bem senso comum e lobisomens? Se não sacou ainda, estou falando do inacreditável Lobisomens Sobre Rodas (Werewolves On Wheels/1971). Produção tão cretina que é imperdível, digna de figurar na prateleira de qualquer maníaco por filme vagabundo, dirigida por um certo Michel Levesque – que tem no currículo passagem como diretor de arte de alguns sexploitation de Russ Meyer (como Up! e Supervixens); e de um filme da série Ilsa (Ilsa, Harem Keeper of the Oil Sheiks/1976).

O filme trata de um grupo de motoqueiros, The Devil Advocates que, uniformizados com seus jaquetões, raybans e bandanas, atravessam uma estrada poeirenta, encontram um estranho monastério ornamentado por grande cruz com chifres. São recebidos pela congregação de monges que vive no local e seu sumo-sacerdote. Colocados fora de ação por uma bebida servida pelos anfitriões, não se dão conta que uma das garotas – Helen -, em transe, é levada pelos monges e consagrada a Satã, dançando pelada com cobras e caveiras. Adam, o líder dos cabeludos desperta e dá por falta da menina, alertando os outros. Eles fazem então o que sabiam melhor: quebram tudo e dão porrada em todo o mundo.

Daí em diante, temos alguns conflitos entre os delinqüentes e as inevitáveis mortes causadas por algo que a falta de recursos para efeitos especiais não mostra. Acabamos sabendo que a responsável era Helen que, sob efeito da missa negra, vira lobisomem e ataca seus companheiros. Uma das vítimas é Adam, que se torna também um monstro (mais cabeludo ainda). O ponto alto do filme (é difícil segurar o riso nessa parte) é quando, após a luta entre o casal de licantropos e o resto dos motoqueiros, Adam foge em sua moto: um lobisomem muito fajuto montando numa Harley e saindo cantando pneus enquanto os outros o perseguem levando tochas.

Realizado pouco depois da histeria causada pelos assassinatos cometidos pela família Manson, que reverteu a nova era de paz e amor apregoada pela geração hippie, Lobisomens Sobre Rodas explora as sombras que eclipsavam a Era de Aquário, com seus assassinos seriais, guerras e violência. Conservador, como em geral são as produções exploitation, mostra o sexo de forma negativa, assim como modos de vida alternativos e práticas ocultistas. Refletindo de certo modo também a imagem passada tanto pelos arautos das seitas pagãs – como Szandor Anton LaVey da Igreja de Satã – e dos grupos de motoqueiros como Hells Angels (que pouco antes tinham se envolvido num crime de morte durante o concerto dos Rolling Stones em Altamont, registrado pelas câmeras dos irmãos Maysles para o filme Gimme Shelter/1970).


Confira o trailler dessa pérola do exploitation abaixo:


http://www.youtube.com/watch?v=nVe8SlUcr6I&NR=1