quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ritos Satânicos de Drácula (1973)


Voltando de Juiz de Fora, onde passei a semana passada (justificando a falta de postagem) na muito legal “Bordas Fora”, Mostra de Cinema de Bordas de Juiz de Fora, organizada pelo meu amigo e professor da UFJF Alfredo Suppia, resolvi matar a saudade da Hammer. E nada melhor para isso do que rever um de seus filmes de Drácula. Escolhi provavelmente o menos cotado e, como sou do contra, um dos que mais gosto: Ritos Satânicos de Drácula.

Em 1972, em plena contra-cultura, a Hammer já mostrava sinais claros de esgotamento. Sua repetitiva fórmula não se adequava aos novos tempos, de contracultura e revoluções no modo de pensar e agir da sociedade. O cinema de horror refletia isso e o Diabo estava na ordem do dia desde que Rosemary pariu seu rebento. Os velhos sets com castelos, carruagens, pequenas aldeias perdidas nos Cárpatos e camponeses enfurecidos carregando tochas noite adentro estavam definitivamente fora de moda em meio às minissaias, drogas alucinóginas e um discurso político radical. Uma das soluções seria dar uma roupagem mais pop para a tradicional temática, o que vai transparecer nas produções do período, em meio aos peitos das atrizes que começaram a pular com mais freqüência para fora dos decotes. De acordo com essa nova aproximação, a decisão mais controversa (e que ainda gera polêmica) foi adaptar seu mais famoso personagem – o Conde Drácula – para a swinging London do início dos anos 1970. Se em outras produções apenas foram atualizadas a estética e o comportamento dos personagens, Drácula foi deslocado da era vitoriana para a metrópole de arranha-déus, bares e automóveis. A primeira tentativa foi com o delicioso Dracula A.D.1972 (também conhecido como Dracula Today; Dracula, Chelsea, 1972 e Dracula Chases the Mini Girls! - título ridículo que inspirou nossos tradutores a chamarem o filme no Brasil de Drácula no Mundo da Minissaia). Dracula A.D.1972 já dava as dicas do que seria, posteriormente, Ritos Satânicos. Garotas bonitas (destaque para a estonteante Caroline Munro e a gostosa Stephanie Beacham), missas negras - tão em voga na época -, e jovens rebeldes. Na seqüência, veio Ritos Satânicos de Drácula (também conhecido por Count Dracula and His Vampire Bride e The Satanic Rites of Dracula), de 1973, um filme que não se define e por isso mesmo tem seu charme. Nessa mistura de thriller de ação com filme de horror, Peter Cushing encarna novamente o incansável caçador de vampiros Van Helsing. Novamente junta forças com a Scotland Yard (com quem trabalhara na produção anterior) para desbaratar um misterioso culto satânico integrado por figurões da política. Ele descobre que por trás se esconde um poderoso empresário que pretende soltar uma peste com a intenção de exterminar a raça humana. E quem é o tal empresário? Nada mais nada menos do que o Conde Drácula! Temos então uma salada bem temperada: perseguições, tiroteios, motoqueiros, mulheres-vampiro, tramas conspiratórias, trilha sonora moderninha (bem bacana, por sinal), missas negras...só faltou o James Bond. Aliás, com todo o respeito ao renomado Van Helsing, o espião britânico faria melhor figura ali caçando um Drácula que, por sua vez estava mais para Goldfinger ou Dr. No. Por tudo isso, é imperdível. Um momento único e, a seu modo, inspirado. Sim, porque os produtores jogaram todas as suas cartas e pagaram para ver. E construíram, dentro dos padrões da cultura pop - vista pelo seu lado mais extravagante - uma obra afetada, desordenada e que, por incrível que pareça, faz sentido. Para ver e rever.