terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Love Camp 7 (1968): pioneiro do nazi-exploitation.


Um dos mais notórios e bem sucedidos sexploitation de 1968 foi um filme que começava com um aviso: “Você não vai viver o suficiente para se esquecer dos eventos que irá testemunhar e experimentar em Love Camp 7”.

Fruto da parceria entre o produtor Robert Cresse e o diretor Robert Lee Frost – um expert em cenas de sadismo -, Love Camp 7 pode ser considerado o principal precursor do que viria a ser a vertente do nazi-exploitation, ou seja, filmes que se utilizavam do estereótipo dos nazistas pervertidos e sádicos sexuais para explorar as mais sórdidas formas de degradação humana. Na verdade, a essência do nazi-exploitation é o fetichismo e as relações sadomasoquistas entre dominantes e dominados, sendo os infames campos de concentração nazistas o cenário ideal para o desenrolar de suas tramas.

Em Love Camp 7, duas jovens tenentes americanas se oferecem como voluntárias para tentar resgatar uma cientista judia aprisionada em um campo de concentração feminino. O local, porém, tinha uma característica peculiar: fazia parte de uma categoria de campos onde as prisioneiras se prostituíam para os soldados e oficiais alemães. Logo ao chegar, são avisadas de sua insignificância e de que, a partir daquele momento, seus corpos e mentes pertenciam ao terceiro reich. O filme passa, então, ao seu propósito principal, utilizando como pano de fundo um período trágico da história da humanidade para exibir a nudez – inclusive frontal - das mulheres cativas e toda uma série de torturas sexuais, em geral infligidas pelo sádico comandante do campo (o próprio diretor Frost). As técnicas de tortura são bastante convincentes, a começar pelo desnudamento forçado, para constranger e evidenciar a situação indefesa das prisioneiras, passando pelo brutal exame ginecológico realizado por uma médica hostil e masculinizada sobre a mesa do comandante. O fetichismo do vestuário nazista (principalmente os uniformes negros dos esquadrões SS) começa a ser utilizado, em sintonia com a crescente estetização do sadomasoquismo nessa linha de filmes. Um exemplo claro da exploração dessa tendência é quando uma prisioneira, tendo quebradas as suas resistências sob tortura, é obrigada a lustrar com a língua o coturno do oficial em comando. A visão dos corpos de mulheres com as marcas da violência (vergões vermelhos dos açoites) também é bastante sugestiva. Contudo, Love Camp 7 ainda é tímido ao não apresentar, mesmo sugestivamente, mutilações, resultados de experiências médicas (elas são citadas de passagem) e torturas mais explícitas como introduções de objetos, utilização de instrumentos como ferros em brasa, alicates, etc. Mas não demoraria muito para isso acontecer. Afinal, o nazi-exploitation estava apenas começando.


Para saber mais, texto de minha autoria:


"Sexo, suástica e sadismo: nazi-exploitation". Estudos Socine de Cinema, ano IV. São Paulo: Editora Panorama, 2003.