sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Macbeth de Polanski


Finalmente revi pela a versão de Roman Polanski para Macbeth (1971), obra de Shakespeare que sempre me fascinou. Provavelmente por sua atmosfera de maldade e permissividade, pontuada pela tragédia e caminhando para o castigo iminente. A história, para quem não sabe, trata de um guerreiro escocês e sua fome de poder. Ambição que turvou-lhe os sentidos, principalmente após ouvir de três bruxas que seria coroado rei da Escócia. Instigado pela maquiavélica esposa, Macbeth trata de fazer cumprir a profecia com as próprias mãos.
Não foi a primeira vez que Macbeth foi parar no cinema: já em 1908 uma curta adaptação da peça foi rodada por J. Stuart Blackton, seguindo-se outras produções sobre o tema a partir de então. Considero as mais relevantes a de Orson Welles (1948), e a releitura de Akira Kurosawa, que transferiu a trama para o Japão do século XVI em Trono Manchado de Sangue (1957). Isso até o diretor polonês estender seu olhar sobre a obra maldita do bardo.
Senhoras e senhores, esta é a melhor adaptação da tragédia de Shakespeare. Acredito que Polanski tenha feito pelo trabalho de Shakespeare o que a Hammer e Terence Fisher fizeram com o Drácula de Stoker. Polanski usa e abusa de violência gráfica com crueza. O sangue, vermelho vivo, jorra e é elemento cênico fundamental nesse mergulho de extrema violência. Nesse sentido, o assassinato do velho rei Duncan e o massacre da família MacDuff são primorosos.
Jon Finch deu energia ao personagem, sendo notável a modificação de seu semblante, quanto mais Macbeth se afundava naquele ponto indistinto entre a loucura e a razão, enquanto o demônio da ambição se nutria, em simbiose. Nada poderia atingi-lo. Ele não deveria temer nada, um quase deus todo-poderoso, respaldado pelas dúbias profecias das feiticeiras.
Francesca Annis está linda, sensual e cruel como Lady Macbeth. Ela se destaca com impacto logo em sua primeira cena, em brilhante artifício. O predomínio dos tons terra do filme é quebrado por seu vestido azul e pela bela cabeleira ruiva, brilhante, deixando claro quem dominaria a cena e seria responsável pela ruína da casa dos Macbeth.
Mas o melhor de tudo: Polanski deu construiu uma eficiente e dinâmica história de horror, onde os elementos do gênero são muito bem explorados: a reunião das bruxas, o espectro de Banquo - maquiado como um morto-vivo, a maldade e loucura humanas onipresentes em toda plenitude e transparecendo a cada sequência do filme. Reflexo da tragédia que pouco antes se abatera sobre o próprio diretor, graças ao notório Charles Manson?