sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Um filme muito estranho: O Dia em que Marte Invadiu a Terra (1963).


Nos anos 1950, em plena guerra fria e sob a ameaça do átomo, os medos e paranóias da sociedade norte-americana foram traduzidas pelos estúdios de cinema principalmente através dos filmes de ficção científica. Monstros gerados pela radiação, discos voadores e invasores alienígenas estavam na ordem do dia. Todos dispostos a escravizar ou aniquilar os habitantes do planeta, aterrorizando com suas formas monstruosas e poderes devastadores. Filmes como A Guerra dos Mundos (War of the Worlds / 1953), O Monstro do Mar Revolto (It Came from Beneath the Sea / 1955), A Invasão dos Discos Voadores (Earth vs. The Flying Saucers / 1956), 20 Milhões de Milhas da Terra (20 Million Miles to Earth / 1957) e A Bolha Assassina (The Blob / 1958) são apenas alguns exemplares das ameaças que nosso pobre planeta enfrentou naqueles “anos dourados”.
Na década seguinte uma injeção de seriedade deu novo direcionamento para essa vertente do cinema fantástico, sendo que em 1963, uma das mais atípicas e estranhas produções de ficção científica do período foi rodada, com direção de Maury Dexter: O Dia em que Marte Invadiu a Terra (The Day Mars Invaded Earth). Recentemente exibido no canal a cabo Telecine Cult, o filme conta a história do Dr. David Fielding (o mal sucedido galã Kent Taylor), um chato responsável pelo envio de uma sonda-robô à Marte. Aproveitando uma folga no projeto, após receber os registros enviados pela máquina na superfície do planeta, o cientista vai passar uns dias com a família numa mansão isolada, para tentar salvar o casamento. O que ele não sabe é que seria acompanhado por invasores marcianos. Vindos em forma de energia através das transmissões da sonda, tinham o poder de se materializarem como simulacros de Fielding, de sua mulher e filhos para substituí-los (tal qual os alienígenas de Vampiros de AlmasInvasion of the Body Snatchers / 1956) e iniciar a invasão da Terra.
A narrativa é desenvolvida de forma lenta, realçada pelos cenários labirínticos da propriedade e enquadramentos que sugerem uma atmosfera onírica, certamente influenciada pelo enigmático O Ano Passado em Marienbad (L’Année Dernière à Marienbad /1961), de Alain Resnais (seguramente o maior filme-cabeça de todos os tempos). Partindo de uma premissa científica, O Dia em que Marte Invadiu a Terra aproxima-se do cinema de horror pelo modo como alguns paradigmas do gênero são utilizados na construção de uma trama que se furta a explicar alguns acontecimentos e por vezes parece confusa. Tanto que um espectador desavisado poderia supor tratar-se de mais um filme de casa mal assombrada, sendo os alienígenas os espíritos inquietos (ou duplos fantasmagóricos dos protagonistas) que vagam pela mansão da propriedade e por seus sinistros jardins. Para o que contribui a fotografia em preto e branco, que intensifica o suspense até o final pessimista e contrário às regras que regiam essas produções. Antecipando os novos ares que sopravam para o cinema em uma década de profundas mudanças nos corações e mentes.