quarta-feira, 12 de maio de 2010

Original Sins (1994)


É de meados da década passada a obscuridade que desenterrei essa semana. Original Sins (1994), escrito, produzido e dirigido pela dupla Howard Berger e Matthew Howe, provavelmente jamais encontraria distribuição em videocassete se não tivesse caído nas graças de Frank Henenlotter, diretor dos extravagantes Basket Case (1982) e Brain Damage (1988). Incluído na série Sexy Shockers from the Vídeo Underground, da Something Weird, empresa especializada em lançar em VHS filmes exploitation sediada em Seattle e capitaneada pelo ex-projecionista Mike Vraney, foi lançado modestamente em 1996 e não faço idéia se continua em catálogo. Para quem não sabe ou não se recorda, Vraney foi o responsável pela edição dos títulos de José Mojica Marins em vídeo nos Estados Unidos na década de 1990.

De baixíssimo orçamento e caráter amador, Original Sins é uma comédia de humor negro que reúne elementos de horror, ficção científica e exploitation, com momentos de puro nonsense que fazem com que, apesar de seu caráter tosco, seja diversão garantida para os interessados nesse tipo de produção.

Conta a história de três fanáticas religiosas, as jovens Diedra (Cheryl Clifford), Kierstan (Angelique de Rochambeau) e Mary Catherine (Faustina), que vivem reprimindo seus instintos e desejos. Ao seu universo, somam-se outros personagens singulares: o tio padre de Mary Catherine; a irmã porra-louca de Kierstan, envolvida com uma banda de rock fuleira que pretende fazer um pacto com o diabo para estourar nas paradas; e o aparvalhado Clark, que nutre uma paixão secreta pela irmã comatosa de sua namorada, Diedra. Um dia, as jovens recolhem o lixo largado em um parque nas imediações quando avistam ao longe um estranho sujeito de cabelos e barbas longas, semelhante a Jesus Cristo. Elas entram em transe e apagam por algumas horas. Em seguida, descobrem ter perdido a virgindade e passam a ter ataques convulsivos onde sentem ampliados os desejos sexuais. Que justificam como a presença de Deus, que as teria escolhido.

A partir daí Original Sins adota um tom blasfemo, onde as práticas e rituais da Igreja - penitências, crucificações, eucaristia, estigmas – são revestidos de um caráter assumidamente apelativo, onde o sexo, a nudez e a violência passam ao primeiro plano, temperados com doses ácidas de crítica e sarcasmo. Como exemplo, a seqüência em que as garotas seqüestram um entregador e fazem sexo com ele, uma após a outra, e depois o crucificam, bebendo o seu sangue e comendo a sua carne. Ou a missa negra realizada pela banda de rock com o cadáver de Mary Catherine, que repentinamente dá à luz um capeta de óculos e barbudo (lembrando o finado político Enéias), de cor vermelha e grandes chifres pontudos.

O filme, que tem até um trecho filmado em stop motion, acaba em tragédia e de modo inusitado, quando descobrimos que o Messias que deflagra toda a confusão, o cara parecido com Cristo é um Et (com nave espacial e tudo). Só vendo pra crer! Original Sins é cinema de guerrilha no melhor estilo defendido aqui por Petter Baiestorf. Uma prova de que, para se fazer um filme criativo tratando de temas ainda tabus no cinemão – principalmente pela abordagem descarada e despudorada -, não precisa de muita grana. E que a terra que pariu Hollywood também tem as suas bordas cinematográficas, para as quais filmes independentes no estilo Sundance se tornam mainstream.

Nenhum comentário: