No início dos anos 1970 vários produtores e diretores pegaram carona no sucesso de O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby / 1968) se aproveitando do momento histórico em que bruxas e demônios estavam na ordem do dia sob os auspícios da tão propalada Era de Aquário.
Podemos afirmar que Satã estava na ordem do dia naqueles idos, tanto como arauto de uma nova ordem onde o homem se libertaria dos grilhões do conservadorismo e da caretice, quanto como deflagrador de atos de violência. A resposta do status quo não tardaria com O Exorcista (The Exorcist/1973). Filme que por sua vez iniciaria uma nova onda, com um caráter cristão mais exacerbado.
Antes de Linda Blair ensinar nas telas um uso pouco ortodoxo para o crucifixo, o diretor Bert I. Gordon, que tem no currículo desde clássicos da ficção científica barata dos anos 1950 como The Amazing Colossal Man (1957) e pérolas da fantasia como A Espada Mágica (The Magic Sword/ 1962), resolveu dar sua contribuição para o horror e faturar uma graninha com a onda do momento. O resultado: Necromancy (1972), uma narrativa de horror gótico que, apesar de ser centrada em elementos claramente inspirados no filme de Polanski, possui interessante premissa.
Conta a história da jovem Lori (Pamela Franklin, de Todas as Noites às Nove / Our Mother’s House /1967 e A Casa da Noite Eterna / The Legend of Hell House / 1973) que após aborto, muda-se para a sinistra cidade de Lilith. Lá conhece o empregador de seu marido Frank (Michael Ontkean), o enigmático Sr. Cato (o grande Orson Welles, 1915 - 1985), um satanista convicto que é dono da cidade e seus habitantes. Aos poucos, Lori vai conhecendo as peculiaridades locais: não existem crianças, os moradores estão proibidos de procriar e a religião oficial é a bruxaria. Logo Frank se alia aos feiticeiros, ficando Lori sozinha em meio às adversidades da comunidade, à qual não se integra.
Acaba descobrindo que não está ali por acaso, mas foi atraída através das forças sobrenaturais desencadeadas por Cato, para com seus poderes sobrenaturais latentes –sobretudo a necromancia que dá título ao filme - trazer o filho do bruxo de volta à vida.
Infelizmente para nós, espectadores, o que promete ser uma narrativa envolvente do old school gótico que permeou o cinema de horror das décadas de 1960 e 70, se perde no andamento truncado e lapsos que deixam muitas questões em aberto: por exemplo, quem é claramente a mulher que aparece nos sonhos de Lori alertando-a para o perigo. Ficam apenas suposições, assim como o final não convincente e alguns acontecimentos repentinos demais.
Talvez a explicação seja que Necromancy teria sofrido vários cortes e ganhado diversas versões (sendo inclusive conhecido como Rosemary’s Disciples). A que me chegou às mãos, em cópia muito ruim, é uma reedição de 1981 (intitulada The Witching) lançada em VHS por aqui pela saudosa Look Vídeo como O Feiticeiro, onde se notam claramente os cortes. Ao que parece, não se tem notícia da tal versão integral. Vale uma busca mais minuciosa na internet.
De qualquer forma, vale a pena assistir. Não só pela atmosfera que o baixo orçamento não prejudicou totalmente, mas pela a recriação meia-boca das cerimônias satânicas (que misturam elementos da Wicca e do Satanismo). Cenas que tiveram consultoria técnica do famoso bruxo e escritor Raymond Buckland, com muita nudez para apimentar – especialmente de Franklin – e algum sexo simulado.
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