O segundo momento para o nazi-exploitation se deu na Itália, país onde se desenvolvia, desde a segunda metade da década de 50, uma grande produção de filmes de horror e exploitation. Podemos considerar a versão italiana ainda mais cruel do que seus predecessores norte-americanos. A pedra fundamental para essa versão do nazi-exploitation foram três filmes, os dois primeiros produzidos com objetivos bastante opostos ao negócio dos filmes de exploração. Um deles foi a produção dirigida por Liliana Cavani, O Porteiro da Noite (ll Portieri di notte, 1974), relatando os jogos de dominação-submissão entre a sobrevivente de um campo de concentração e seu antigo algoz, um ex-oficial nazista (agora porteiro noturno de um hotel vienense), alguns anos após o fim da guerra. Outro foi o polêmico Saló – Os 120 Dias de Sodoma (Salò o le 120 Gionarte di Sodoma, 1975), de Pasolini, na verdade um libelo anti-fascista que, de forma crua e chocante, transpõe para o cenário da decadente Itália de Mussolini o universo do Marquês de Sade. Saló relata as degradações sofridas por um grupo misto de jovens nas mãos de representantes dos poderes estabelecidos em um castelo. Lá são confinados e submetidos a toda sorte de humilhações e torturas físicas, sendo estuprados, cortados, queimados, obrigados a ingerir excrementos e mortos.
O terceiro é Salon Kitty (1976), de Tinto Brass, co-produção italiana, alemã e francesa, que buscou inspiração nos míticos bordéis destinados aos oficiais e soldados da Alemanha nazista, palco para tramas conspiratórias e perversões sexuais. Filme que já se aproxima do conceito de nazi-exploitation e figurar entre os demais produzidos no período, relacionados rapidamente a seguir:
SS Experiment Camp (1976), de Sergio Garrone, apresenta todos os clichês desse tipo de filme (a carcereira lésbica, os guardas sádicos, os trabalhos forçados), além de uma inusitada tentativa do transplante dos testículos removidos de um prisioneiro para o comandante do campo. As Condenadas (L’Última Orgia Del lll Reich, também conhecido com Calígula Reincarnated as Hitler ou Gestapo’s Last Orgy, 1976), de Cesare Canevari, descreve as humilhações por que passam as prisioneiras judias com requintes de sadomasoquismo, em cenas inspiradas por O Porteiro da Noite. Em Le Deportate della Sezione Speciale SS (1976), de Rino Di Silvestro, repetem-se as seqüências de lesbianismo e estupros. A mais evidente apropriação de Saló pode ser vista em Le Lunghe notti della Gestapo (1977), de Fabio De Agostini, em que doze personalidades do reich são entretidos por doze garotas treinadas para satisfazê-los sexualmente, terminando em violenta orgia. As Garotas da SS (Casa Privata per le SS, 1977), de Bruno Mattei, é uma cópia de Salon Kitty; e La Svastica nel Ventre (1977) de Mario Caiano, um dos menos inspirados, novamente tratando de jovens judias sendo prostituídas pelos nazistas. La Bestia in Calore, do mesmo ano, dirigido por Luigi Batzella, representa bem a característica híbrida dos filmes de exploração italianos, misturando w.i.p. (women in prison – vertente do exploitation) com filme de monstro, ao contar as atrocidades cometidas pela dirigente de um campo de concentração (no mesmo estilo de Ilsa, a Guardiã Perversa da SS) que faz das prisioneiras cobaias de suas experiências.
Certamente essa vertente não estava preocupada em evidenciar o quão baixo o ser humano poderia descer ao infligir sofrimentos aos seus semelhantes, mas pelo contrário, explorar as suas imagens. E se esses filmes não eram muito originais em termos de roteiro, promovendo um canibalismo mútuo constante, em alguns momentos eram bastante criativos ao explorar o triângulo nudez-sexo-violência. Todos buscando evidenciar a idéia do terceiro reich como um grande bordel, regido por devassos e sádicos. Para os diretores do cinema exploitation italiano, que passavam de gênero para gênero sem o menor pudor, de acordo com as tendências do mercado, os estigmas do nazismo, com evidente destaque para o holocausto nos campos de concentração e as tristemente famosas experiências médicas, eram temas mais do que adequados aos seus objetivos.
Um comentário:
Salò é filmaço! Aliás, falar da cinematografia do Pasolini comigo é assunto pra décadas. É um dos meus cineastas-fetiche.
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