sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Renascimento do Horror Gótico, Parte 2: Corman e a AIP.


Por outro lado, nos Estados Unidos, a A.I.P. (American International Pictures) iniciava os dias do drama de horror gótico, orquestrado pelo mais tarde conhecido “rei dos filmes B” Roger Corman.
Produtora especializada no filão exploitation, acompanhava as tendências do mercado, produzindo filmes baratos que exploravam os assuntos em voga, em geral destinados ao público jovem, como delinquência juvenil e conflitos de gangues. Portanto não é de estranhar o seu direcionamento para o horror, já na década de 50 com os citados filmes B de monstros e insetos. Isso somado à concorrência de outros produtores de filmes exploitation que cada vez mais disputavam fatias de seu mecado e a óbvia influência do sucesso dos filmes da Hammer.
Graças a Corman, os monstros deram lugar a indivíduos neuróticos e torturados, vagando melancólicos e amargurados por mansões lúgubres que guardavam aterrorizantes segredos. O horror deixa de ser palpável e previsível, tornando-se uma força ancestral de dimensões cósmicas. Rejeitando em parte o maniqueísmo presente na maioria dos filmes de horror, inclusive nos da concorrente britânica, ou seja, a eterna luta entre o bem e o mal, em que o primeiro invariavelmente vence, Corman buscou em Freud uma base psicológica para seus personagens. O bem e o mal não eram mais tão distintos assim, apesar dos filmes sempre caminharem para a redenção ou purgação. Não foi por acaso, portanto, que a base desse ciclo de oito filmes que dirigiu entre 1960 e 1964 e caracterizou o gótico americano nas telas foi adaptado da obra do escritor Edgar Allan Poe – e posteriormente H.P. Lovecraft, seu principal intérprete Vincent Price e as cores predominantes (em oposição aos vibrantes vermelhos da Hammer) os azuis e verdes Pathecolor, ressaltando o ambiente mórbido e decadente daquelas produções. O sexo se insinua, ganhando novos significados. Não mais o enlace fatal, em que a vítima sucumbe em um ritual de prazer ao seu algoz, mas ao sexo além da morte, do culto à necrofilia e da paixão eterna que corrói e volta como um espectro assustador.
Sendo assim não poderia ter sido mais coerente a escolha de Poe, com sua concepção de um horror que nos rodeia e também está dentro nós mesmos, carregado de perversão, morbidez e degenerescência. Concepção que está presente em Solar Maldito (House of Usher, 1960), o primeiro filme do ciclo, em que um irmão, sua irmã gêmea e o antigo casarão que habitam compartilham uma única alma e encontram uma dissolução comum na mesma hora.
A A.I.P. também foi responsável pela distribuição do filme que podemos considerar, mais do que um ponto alto do terror gótico dos anos 60, um marco do cinema de horror. Black Sunday (La Maschera del Demônio/1960) o melhor trabalho do diretor italiano Mario Bava e um dos mais atmosféricos e assustadores filmes já feitos.
Black Sunday, que já foi assunto de um post anterior (ver o arquivo), possui todos os elementos que, a grosso modo, caracterizam um filme como gótico: o castelo lúgubre com suas alas abandonadas ou em ruínas, corredores úmidos, catacumbas, lendas tenebrosas e maldições ancestrais. Além de vilões perversos, da jovem inocente vítima maior dos horrores e o herói – na verdade o representante do bem que vai lutar contra as forças do mal desencadeadas.

Continua...

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