sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Verdade Sobre Drácula (1975) ou No papel de Vlad Tepes, Christopher Lee batia um bolão



Em meados da década de 1970 eu tinha por hábito, na saída do colégio onde cursava o primeiro grau no Rio de Janeiro, fazer uma visita à Entrelivros (uma rede de livrarias) no caminho de casa. Apesar de jovem, já alimentava meu imaginário com coisas pouco usuais para o que se convencionava ser um adolescente sadio e já prenunciava os rumos que minha vida iria tomar: monstros e bizarrices. Que procurava invariavelmente nos livros, quadrinhos (as editoras brasileiras eram prolíferas no gênero) e nas madrugadas passadas na frente do velho televisor preto e branco. Passava longe dos cinemas onde a censura impedia meu ingresso para assistir às produções que versavam sobre meu tema preferido, taxadas como impróprias para menores de 18 anos. Numa dessas peregrinações à Entrelivros encontrei o recém lançado no Brasil (Record,1975) Drácula: Mito ou Realidade, de uma dupla de acadêmicos: o norte americano Raymond T. McNally e o romeno Radu Florescu. Originalmente intitulado In search of Dracula: a true history of Dracula and vampire legends, a obra que resultava nas investigações dos pesquisadores trazia nova luz para os estudos do vampirismo, desvendando as origens históricas do personagem imortalizado por Bram Stoker: o príncipe da Valáquia Vlad Tepes.

Alguns anos mais tarde descobri, em meio ao bagunçado mercado de filmes em vídeo dos anos 1980 – nunca consegui entender a diversidade de distribuidoras de VHS e sua falta de critério na seleção de títulos – a versão cinematográfica do livro de McNally e Florescu: A Verdadeira História de Drácula (In Search of Dracula), distribuído pela F. J. Lucas. Produção original de 1975 da Aspekt Films sueca (apenas três anos após sair do prelo o livro em que se baseava), trata-se de um documentário que tenta reproduzir a estrutura elaborada pelos pesquisadores (que contribuíram com a roteirista). Seguindo os moldes do documentário clássico, com narração over e cenas recriadas, o filme dirigido pelo inglês Calvin Floyd passou longe de ser bem sucedido. Ainda que McNally e Florescu justifiquem esse fracasso (na versão atualizada do livro, lançada aqui em 1992 pela Mercuryo) ao fato da produção ser “bem falante e intelectual demais para ser um sucesso comercial”, é na falta de uma linha narrativa a ser seguida que vamos encontrar o motivo principal. O documentário, levado à cabo pela mão pesada de Floyd, não se sustenta nessa pretensão de seriedade, podendo mais ser alinhado aos documentários de exploração – apelidados de filmes mondo. O que não seria nenhum problema, desde que isso fosse assumido desde o princípio, tornando a obra mais divertida em seu desfile de excentricidades e toscas recriações – como a mulher nua cavalgando sobre sepulturas para identificar a cova de um vampiro. Ainda assim, tem caráter pioneiro por ser o primeiro documentário que liga Drácula ao Vlad Empalador e trata das raízes do mito do vampiro e se, para o espectador atual pareça datado e com sabor de déja vu (afinal, desde então muitos outros documentários abordaram o tema), merece a atenção por um tempero extra: a presença do ainda atuante Drácula da Hammer, o ator Christopher Lee em caracterização do príncipe romeno perfeita para aparecer como vilão de filme da boca do lixo, ostentado cabelos compridos e um bigode de fazer inveja ao jogador Rivelino. Observem a semelhança na montagem fuleira acima.


Trecho do filme:


http://www.youtube.com/watch?v=46IAZionybM

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