Conforme vem sendo noticiado, Tim Burton pretende levar às telas em 2011 sua versão da cultuada Dark Shadows, infelizmente pouco conhecida do espectador brasileiro. Vale então, uma breve introdução a esse momento muito especial do horror na televisão.
Novela diurna gótica transmitida pela rede norte-americana ABC entre junho de 1966 e abril de 1971, foi idealizada pelo prolífico Dan Curtis (1927-2006) ainda em 1965, segundo a lenda a partir de um estranho sonho em que via uma jovem em um trem, com destino a uma antiga propriedade. Deve-se ressaltar a relevância de Curtis para o gênero, notadamente na produção e direção de telefilmes – os dois longas com o personagem Kolchak, The Night Stalker (1972, dirigido por John Llewellyn Moxey) e The Night Strangler (1973) e o incensado The Norliss Tapes (1973), por exemplo – e longas para a tela grande, como o Drácula (Dracula, 1973), encarnado pelo ator Jack Palance, e o fantasmagórico Burnt Offerings (1976).
A idéia, aprovada pela emissora ABC, acabou nas mãos do roteirista Art Wallace – responsável também pelo sugestivo título -, que usou como base um script de sua autoria, sobre mulher que teve o marido desaparecido, reclusa em uma casa sombria. Na nova trama, para lá se dirige a heroína do sonho de Curtis, Victoria Winters (interpretada pela atriz Alexandra Moltke), contratada como governanta em uma tétrica mansão no Maine. Denominada Collinwood, na casa viviam a aristocrática Elizabeth Collins Stoddard, seu irmão pinguço Roger e suas respectivas crianças, Carolyn e David.
O show inicialmente não apresentaria elementos sobrenaturais, mas a baixa audiência fez com que um desesperado Curtis incluísse na trama, poucos meses após a estréia, o inusitado fantasma da antepassada Josette Collins, que surge saindo de um retrato. A ousadia (para os padrões da tv da época em termos de soap operas) foi bem sucedida, levantando a audiência, que com o decorrer do tempo chegou a ultrapassar os 15 milhões de telespectadores, e dando novo alento à produção. Resultando em seguida numa trama envolvendo magia negra, definindo os rumos que Dark Shadows tomaria, assumindo o horror e o fantástico como mola mestra, com novos e aterrorizantes subplots que se sucediam. Este redirecionamento se cristalizou em abril de1967 no episódio 210, com a inclusão do personagem que se tornaria o mais famoso da novela: o vampiro Barnabas Collins. Tanto que para muitos, Dark Shadows realmente se inicia nesse episódio, ficando a primeira parte no esquecimento. Não é de estranhar, portanto, que em exibições posteriores este primeiro segmento fosse ignorado, sendo o programa transmitido a partir da chegada de Barnabas. Somente uma vez, em 1992, o Sci Fi Channel passou o programa na íntegra, desde o primeiro episódio com a chegada de Victoria Winters a Collinwood.
O vampiro, que inaugurou nova era para Dark Shadows foi interpretado pelo ator de teatro canadense Jonathan Frid. Criado nos moldes do Drácula de Bram Stoker, ele é despertado de seu sono secular pelo mal intencionado Willie Loomis, que abre a sepultura do monstro para roubar supostas jóias ali enterradas. Fazendo-se passar por um primo recém chegado da Inglaterra, Barnabas integra-se na narrativa e no cotidiano de Collinwood. Vale ressaltar que a participação do personagem seria temporária, mais uma atração do programa. Porém, seu grande e inesperado sucesso fez não só com que Dan Curtis o mantivesse até o final, mas também incluisse na trama lobisomens, bruxas, zumbis e toda uma gama de indivíduos ou entidades monstruosas que já povoavam a cultura popular por intermédio da literatura e produções cinematográficas em explícitas apropriações. Até situações ainda raramente exploradas na televisão fora de seriados de ficção científica e fantasia como Quinta Dimensão (The Outer Limits) e Além da Imaginação (Twilight Zone), ganharam espaço na longa novela: viagem no tempo e universos paralelos. Segundo J. Gorodn Melton, em O Livro dos Vampiros (Makron Books, 1995) Dark Shadows “criou a mais elaborada e complexa alternativa à história de Drácula na moderna mitologia. Foi exibido para um público cada vez maior desde o momento em que Barnabas foi incluído no enredo”.
O universo de Dark Shadows se expandiu em diversos produtos: bonecos, álbuns de figurinhas, discos, histórias em quadrinhos, livros, etc. Após o encerramento em 1971, se manteve vivo nas reprises e edições em vídeo (*). Dois longametragens foram produzidos para o cinema com direção do próprio Curtis, Nas Sombras da Noite (House of Dark Shadows, que foi rodado em 1970, ainda durante a vigência da série) e A Maldição das Sombras (Night of Dark Shadows /1971), que serão tema de futuras postagens. John Kenneth Muir, em Terror Television (McFarland & Company, 2001) sugere ser a produção de horror de Curtis equivalente a outra série da tv norte-americana: a cult Star Trek, de Gene Roddenberry. Ambas, segundo o autor, foram concebidas em 1966, e inesperadamente sobrepujaram seu evidente baixo orçamento e curta duração, tornando-se por seus próprios méritos um fenômeno da cultura popular.
Em
(*) A novela foi lançada pela MPI, primeiramente em vídeo e atualmente está disponível em duas séries de DVD, uma delas dedicada aos episódios da fase anterior ao surgimento de Barnabas. Disponível na Amazon.
Saiba mais sobre Dark Shadows em:
http://www.darkshadowsonline.com/dso-dark.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Dark_Shadows
Compacto dos episódios 210 e 211, em que o vampiro Barnabas Collins chega a Collinwood:
http://www.youtube.com/watch?v=3Q7QhRr5NaU
http://www.youtube.com/watch?v=L2jFPPywN7A
2 comentários:
Esse Dark Shadows, do Burton, é um dos projetos mais aguardados por mim. Só espero que ele se redima do fraco Alice que dirigiu.
Cultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Aguardo com um certo ceiticismo, apesar de admirar a obra de Burton (com algumas reservas, entre elas a Alice...rs...).
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