Não é novidade a relação entre sexualidade e vampirismo. Muito já se escreveu sobre o assunto, freqüente nas mais diversas manifestações culturais que de algum modo se aventuraram pela mitologia dos vampiros.
No cinema essa interação começou timidamente, de forma um tanto quanto velada. O que, se em parte pode ser explicado como decorrência dos padrões de comportamento e costumes da primeira metade do século XX, também está patente no caráter assexuado e nada estimulante dos protagonistas daquelas produções. Afinal, exige-se um bocado de imaginação, ou mesmo forçada boa vontade, para se deixar seduzir pelos primeiros vampiros que encarnaram nas telas. É interessante pensarmos até, que o feioso Conde Orloff (o não menos sinistro Max Schreck) do Nosferatu de Murnau, tenha mais a ver com o caráter de morbidez e sexualidade perversa inerente à figura do vampiro do que os insípidos e posteriores Bela Lugosi, Lon Chaney Jr e John Carradine, atores que personificaram o Conde Drácula na série de filmes produzidos pela Universal entre os anos 30 e 40. Talvez o que mais possamos destacar dessa sexualidade reprimida tenha sido o sutil desejo lésbico da Condessa Zaleska (Gloria Holden) em um dos melhores momentos da leva, A Filha de Drácula (Dracula’s Daughter/1936).
Foi com a Hammer Films, responsável pelo renascimento do horror em fins dos anos 50, que o caráter sexual dos vampiros e vampiras começou a aflorar. Os novos ares trazidos pelos anos 60 permitiram que, em uma década, o sexo pudesse ser mostrado mais explicitamente e essa exposição evoluísse muito mais do que nos cinqüenta anos anteriores. Vale lembrar que nesse curto período de tempo os decotes foram se ampliando até chegar ao sexo explícito, que saiu dos guetos estabelecendo a pornografia fílmica enquanto indústria.
Ainda conservador por seu caráter dominador masculino, a nova encarnação do conde vampiro, personificado por Christopher Lee, era uma metáfora do predador sexual. Impetuoso e violento, quando mordia suas vítimas femininas, as possuía de corpo e alma. Elas se entregavam sem resistência e sucumbiam, em um misto de terror e volúpia. Ao mesmo tempo em que ele as seduzia, as desprezava. O abraço do vampiro, sua mordida, afirmou-se desse modo como representação da dominação sexual, da penetração e do orgasmo.
Em meio ao fracasso comercial que já espreitava no final dos sixties, a Hammer buscava cada vez mais capitalizar em cima da nudez de seu bem selecionado cast feminino. Os seios acabaram saltando de vez dos decotes. E se mostrar mulher pelada era bom para os negócios, melhor ainda seria se elas interagissem. Desse mergulho da Hammer no sexploitation, surgiu uma modalidade que acabou conhecida como tits-and teeth, representada pela trilogia das vampiras Karnstein (baseada no livro Carmilla, do escritor irlandês Sheridan Le Fanu). Se The Vampire Lovers (1970), Luxúria de Vampiros (Lust for a Vampire/1971) e As Filhas de Drácula (Twins of Evil/1971) não salvaram a Hammer da ruína que encerraria as suas atividades poucos anos depois, serviram para determinar um novo enfoque. Mais do que mostrar peitos se esfregando e a estimulante nudez de Ingrid Pitt, Yutte Stensgaard ou das gêmeas Mary e Madeleine Collinson (que foram coelhinhas da Playboy), assumiam a mulher como protagonista de ações antes reservadas aos vampiros machos. O que não redime esses filmes de seu caráter conservador, pois contrapunham essas femmes fatales às suas vítimas, ingênuas “moças de família” que eram invariavelmente salvas de suas garras pela autoridade masculina responsável pelo re-estabelecimento da ordem. (Continua semana que vem...)
No cinema essa interação começou timidamente, de forma um tanto quanto velada. O que, se em parte pode ser explicado como decorrência dos padrões de comportamento e costumes da primeira metade do século XX, também está patente no caráter assexuado e nada estimulante dos protagonistas daquelas produções. Afinal, exige-se um bocado de imaginação, ou mesmo forçada boa vontade, para se deixar seduzir pelos primeiros vampiros que encarnaram nas telas. É interessante pensarmos até, que o feioso Conde Orloff (o não menos sinistro Max Schreck) do Nosferatu de Murnau, tenha mais a ver com o caráter de morbidez e sexualidade perversa inerente à figura do vampiro do que os insípidos e posteriores Bela Lugosi, Lon Chaney Jr e John Carradine, atores que personificaram o Conde Drácula na série de filmes produzidos pela Universal entre os anos 30 e 40. Talvez o que mais possamos destacar dessa sexualidade reprimida tenha sido o sutil desejo lésbico da Condessa Zaleska (Gloria Holden) em um dos melhores momentos da leva, A Filha de Drácula (Dracula’s Daughter/1936).
Foi com a Hammer Films, responsável pelo renascimento do horror em fins dos anos 50, que o caráter sexual dos vampiros e vampiras começou a aflorar. Os novos ares trazidos pelos anos 60 permitiram que, em uma década, o sexo pudesse ser mostrado mais explicitamente e essa exposição evoluísse muito mais do que nos cinqüenta anos anteriores. Vale lembrar que nesse curto período de tempo os decotes foram se ampliando até chegar ao sexo explícito, que saiu dos guetos estabelecendo a pornografia fílmica enquanto indústria.
Ainda conservador por seu caráter dominador masculino, a nova encarnação do conde vampiro, personificado por Christopher Lee, era uma metáfora do predador sexual. Impetuoso e violento, quando mordia suas vítimas femininas, as possuía de corpo e alma. Elas se entregavam sem resistência e sucumbiam, em um misto de terror e volúpia. Ao mesmo tempo em que ele as seduzia, as desprezava. O abraço do vampiro, sua mordida, afirmou-se desse modo como representação da dominação sexual, da penetração e do orgasmo.
Em meio ao fracasso comercial que já espreitava no final dos sixties, a Hammer buscava cada vez mais capitalizar em cima da nudez de seu bem selecionado cast feminino. Os seios acabaram saltando de vez dos decotes. E se mostrar mulher pelada era bom para os negócios, melhor ainda seria se elas interagissem. Desse mergulho da Hammer no sexploitation, surgiu uma modalidade que acabou conhecida como tits-and teeth, representada pela trilogia das vampiras Karnstein (baseada no livro Carmilla, do escritor irlandês Sheridan Le Fanu). Se The Vampire Lovers (1970), Luxúria de Vampiros (Lust for a Vampire/1971) e As Filhas de Drácula (Twins of Evil/1971) não salvaram a Hammer da ruína que encerraria as suas atividades poucos anos depois, serviram para determinar um novo enfoque. Mais do que mostrar peitos se esfregando e a estimulante nudez de Ingrid Pitt, Yutte Stensgaard ou das gêmeas Mary e Madeleine Collinson (que foram coelhinhas da Playboy), assumiam a mulher como protagonista de ações antes reservadas aos vampiros machos. O que não redime esses filmes de seu caráter conservador, pois contrapunham essas femmes fatales às suas vítimas, ingênuas “moças de família” que eram invariavelmente salvas de suas garras pela autoridade masculina responsável pelo re-estabelecimento da ordem. (Continua semana que vem...)
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