Em 1947 morria na cidade de Hastngs, Inglaterra, aquele que foi chamado pela imprensa britânica de “o homem mais perverso do mundo”: Edward Alexander Crowley. Conhecido como Aleister Crowley, foi o mais famoso mago contemporâneo, responsável por revolucionar a tradição mágica incorporando particularidades até então impensáveis. Ocultista, artista, charlatão, aventureiro e de brilhante inteligência, pode-se dizer que Crowley foi repudiado pelos seus semelhantes pela ousadia de transgredir as convenções – esotéricas ou não -, e de certa forma, acabou vítima dos próprios excessos, deixando como legado todo um sistema mágico complexo e desafiador.
Tal caráter contracultural não passou despercebido, sendo que após a morte, sua controversa personalidade não só deixou seguidores quanto serviu de base para obras de ficção, seja na literatura – ”O Mago”, de Somersert Maugham - , como na música (inspirando inúmeros roqueiros) e no cinema. O que pode ser conferido já em 1957 na produção A Noite do Demônio (Night of the Demon), de Jacques Tourneur, onde a caracterização do satanista Karswell (Niall MacGinnis) é nitidamente calcada no mago inglês. Também a essa influência podemos associar os diabólicos Mocata de The Devil Rides Out (1968), de Terence Fisher (Hammer) e Adrian Marcato, de O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby / 1968).
Contudo, somente em 2008, sessenta e um anos após sua passagem ao oriente eterno, Aleister Crowley foi personagem de um filme de horror: Casamento Alquímico (Chemical Wedding) dirigido por Julian Doyle a partir de história escrita em parceria com o metaleiro Bruce Dickinson (ex-Iron Maiden) a partir de um de seus álbuns de mesmo nome.
A narrativa começa com os últimos momentos do mago (John Shrapnel, inspiradíssimo), em Hastings, quando é acometido de um colapso enquanto estava na companhia do aprendiz Symons (Paul McDowell) e do incrédulo Alex. Em seguida, desloca-se para a Inglaterra atual, onde conhecemos o proeminente físico norte-americano Dr. Joshua Mathers (Kal Weber), recém-chegado da Cal Tech para trabalhar num experimento sobre realidade virtual em Cambridge. No caso a interação de um traje especial (um tipo de roupa de astronauta) desenvolvido por ele com o supercomputador Z93, que teria como resultado a ligação perfeita entre a máquina e o cérebro humano. O problema é que o programador da máquina, o perturbado Dr. Victor Neuman (Jud Charlton), tinha segundas intenções. Seguidor da doutrina de Crowley, convertera seus ritos e cerimônias para linguagem de máquina e os armazenou dentro do Z93, usando como cobaia na experiência seu cúmplice, o desajeitado professor de literatura Oliver Haddo (Simon Callow). Algo, porém, não sai como esperado. Haddo entra em colapso dentro do traje, voltando transformado. O professor é possuído por Aleister Crowley e passa a escandalizar o corpo docente da universidade – em parte composto de maçons - com seus desvarios e blasfêmias.
Decidido a perpetuar sua obra, Haddo/Crowley pretende realizar um poderoso rito, a geração do demônio enoquiano Choronzon, personificação das forças infernais. Para tal intento se concretizar, seria necessária a união carnal com a bíblica prostituta da Babilônia no que seria o clímax da cerimônia satânica: o casamento alquímico. E recai sobre a jovem estudante Lia (Lucy Cudden), envolvida com o jornal da universidade e interesse romântico do Dr. Mathers, o interesse do bruxo. Ela será a sua “mulher escarlate” no rito supremo e caberá ao físico norte-americano utilizar a tecnologia moderna para salvá-la das garras da “mágicka” arcana de Crowley.
Casamento Alquímico, apesar do roteiro por vezes confuso ao tentar misturar física quântica com bruxaria, tem como grande mérito ser a primeira produção destinada ao grande público (lembrando que o cineasta underground Kenneth Anger já se debruçara sobre o tema com outras intenções) que faz tantas referências ao universo crowleyano. Referências que irão instigar muitos espectadores a conhecerem melhor a obra de Mr. Therion e são facilmente identificáveis pelos adeptos*. Ainda que estes certamente torçam o nariz para algumas liberdades, pela redução ao senso comum de alguns preceitos e a caracterização do personagem principal, enfatizando e exagerando os aspectos mais pérfidos. O que pode ser justificado pelo fato de Casamento Alquímico ser uma produção de horror com elementos sexploitation (algumas pitadas de sadomasoquismo e nudez), em muito lembrando a fase áurea do horror B inglês, especialmente os filmes da Hammer. Uma obra que celebra os excessos e é bastante divertida. Resta saber o que o retratado principal acharia.
Tal caráter contracultural não passou despercebido, sendo que após a morte, sua controversa personalidade não só deixou seguidores quanto serviu de base para obras de ficção, seja na literatura – ”O Mago”, de Somersert Maugham - , como na música (inspirando inúmeros roqueiros) e no cinema. O que pode ser conferido já em 1957 na produção A Noite do Demônio (Night of the Demon), de Jacques Tourneur, onde a caracterização do satanista Karswell (Niall MacGinnis) é nitidamente calcada no mago inglês. Também a essa influência podemos associar os diabólicos Mocata de The Devil Rides Out (1968), de Terence Fisher (Hammer) e Adrian Marcato, de O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby / 1968).
Contudo, somente em 2008, sessenta e um anos após sua passagem ao oriente eterno, Aleister Crowley foi personagem de um filme de horror: Casamento Alquímico (Chemical Wedding) dirigido por Julian Doyle a partir de história escrita em parceria com o metaleiro Bruce Dickinson (ex-Iron Maiden) a partir de um de seus álbuns de mesmo nome.
A narrativa começa com os últimos momentos do mago (John Shrapnel, inspiradíssimo), em Hastings, quando é acometido de um colapso enquanto estava na companhia do aprendiz Symons (Paul McDowell) e do incrédulo Alex. Em seguida, desloca-se para a Inglaterra atual, onde conhecemos o proeminente físico norte-americano Dr. Joshua Mathers (Kal Weber), recém-chegado da Cal Tech para trabalhar num experimento sobre realidade virtual em Cambridge. No caso a interação de um traje especial (um tipo de roupa de astronauta) desenvolvido por ele com o supercomputador Z93, que teria como resultado a ligação perfeita entre a máquina e o cérebro humano. O problema é que o programador da máquina, o perturbado Dr. Victor Neuman (Jud Charlton), tinha segundas intenções. Seguidor da doutrina de Crowley, convertera seus ritos e cerimônias para linguagem de máquina e os armazenou dentro do Z93, usando como cobaia na experiência seu cúmplice, o desajeitado professor de literatura Oliver Haddo (Simon Callow). Algo, porém, não sai como esperado. Haddo entra em colapso dentro do traje, voltando transformado. O professor é possuído por Aleister Crowley e passa a escandalizar o corpo docente da universidade – em parte composto de maçons - com seus desvarios e blasfêmias.
Decidido a perpetuar sua obra, Haddo/Crowley pretende realizar um poderoso rito, a geração do demônio enoquiano Choronzon, personificação das forças infernais. Para tal intento se concretizar, seria necessária a união carnal com a bíblica prostituta da Babilônia no que seria o clímax da cerimônia satânica: o casamento alquímico. E recai sobre a jovem estudante Lia (Lucy Cudden), envolvida com o jornal da universidade e interesse romântico do Dr. Mathers, o interesse do bruxo. Ela será a sua “mulher escarlate” no rito supremo e caberá ao físico norte-americano utilizar a tecnologia moderna para salvá-la das garras da “mágicka” arcana de Crowley.
Casamento Alquímico, apesar do roteiro por vezes confuso ao tentar misturar física quântica com bruxaria, tem como grande mérito ser a primeira produção destinada ao grande público (lembrando que o cineasta underground Kenneth Anger já se debruçara sobre o tema com outras intenções) que faz tantas referências ao universo crowleyano. Referências que irão instigar muitos espectadores a conhecerem melhor a obra de Mr. Therion e são facilmente identificáveis pelos adeptos*. Ainda que estes certamente torçam o nariz para algumas liberdades, pela redução ao senso comum de alguns preceitos e a caracterização do personagem principal, enfatizando e exagerando os aspectos mais pérfidos. O que pode ser justificado pelo fato de Casamento Alquímico ser uma produção de horror com elementos sexploitation (algumas pitadas de sadomasoquismo e nudez), em muito lembrando a fase áurea do horror B inglês, especialmente os filmes da Hammer. Uma obra que celebra os excessos e é bastante divertida. Resta saber o que o retratado principal acharia.
"Amor é a lei, amor sob vontade!" (Aleister Crowley (1875-1947)
(*) Algumas dessas referências:
- O sobrenome Mathers, do físico norte-americano, evoca o líder da famosa ordem Golden Dawn, Samuel MacGregor Mathers, que acabou se tornando inimigo de Crowley.
- O personagem Victor Neuman pode ter sido baseado no acólito Victor Neuburg.
- A jovem graduanda Lia Robinson remete a Leah Hirsing, uma das “mulheres escarlates” do mago.
- Há claras referências ao cientista-bruxo Jack Parsons, da Cal Tech, responsável por significativas pesquisas aeroespaciais – foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do programa espacial norte-americano – e líder da organização de Crowley nos Estados Unidos, assim como seu então parceiro L.Ron Hubbard (o criador da cientologia).
(*) Algumas dessas referências:
- O sobrenome Mathers, do físico norte-americano, evoca o líder da famosa ordem Golden Dawn, Samuel MacGregor Mathers, que acabou se tornando inimigo de Crowley.
- O personagem Victor Neuman pode ter sido baseado no acólito Victor Neuburg.
- A jovem graduanda Lia Robinson remete a Leah Hirsing, uma das “mulheres escarlates” do mago.
- Há claras referências ao cientista-bruxo Jack Parsons, da Cal Tech, responsável por significativas pesquisas aeroespaciais – foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do programa espacial norte-americano – e líder da organização de Crowley nos Estados Unidos, assim como seu então parceiro L.Ron Hubbard (o criador da cientologia).
Um comentário:
Muito legal, gostei do seu blog e desse post. Completando eu acho que foi o nome Oliver Haddo foi inspirado no romance de W. Somerset Maugham, que se chama The Magician, que é praticamente inspirado no Crowley.
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